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Eleição na Abstartups tem diversidade regional como bandeira

Duas chapas disputam a presidência da entidade no dia 31 de outubro. Veja as propostas de Vinny Machado, da oposição

Abstartups
Foto: Reprodução

Membros da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) escolhem no dia 31 de outubro o próximo presidente da entidade. Pela primeira vez desde a fundação do grupo, há duas chapas concorrendo à presidência. E, em ambas, a diversidade regional aparece como uma das principais bandeiras defendidas pelos candidatos.

Apoiado pela atual presidente da Abstartups, Ingrid Barth, está Lindomar Góes, fundador da Proesc e presidente da Associação Amapaense de Tecnologia (Amapatec). Já a chapa de oposição, lançada pelo Movimento De Startups para Startups, escolheu o empreendedor Vinny Machado para disputar a presidência da associação.

Na sexta-feira, a Abstartups enviou comunicado oficializando o apoio de Ingrid a Lindomar, que disputará as eleições deste ano com a chapa composta por Camila Florentino, da startup Celebrar, como vice-presidente, e Waldir Junior, da startup Tributei, como CFO.

Em nota, a atual presidente destaca a importância de promover uma representatividade que reflita a diversidade regional e social do ecossistema de startups brasileiras.

“Com Lindomar e Waldir, ambos da Amazônia, reforçamos nosso compromisso com a inovação na região amazônica, especialmente num momento em que a visibilidade local é essencial diante das discussões globais. Tivemos G20 este ano no Brasil, e ano que vem teremos COP30 e Brics no país, onde o centro das discussões será meio ambiente, transição energética, clima e Amazônia, uma janela de oportunidade histórica. Empoderar a região e os respectivos ecossistemas ajudará o país inteiro a liderar essas discussões e destinar os recursos financeiros mundiais vinculados a esses setores para o Brasil, lembrando que quando falamos de Amazônia legal, estamos incluindo estados do Nordeste e Centro-Oeste também”, afirma.

A chapa DSPS, por sua vez, traz, além de Vinny, a investidora Laura Gurgel (Fundadora do Soul.Working e Clube de Negócios) como candidata à vice-presidência, além de Ricardo Motta (CEO e fundador da Dshbird) como diretor financeiro.

O Startups enviou cinco perguntas iguais para os dois candidatos sobre suas propostas. Confira as respostas:

Startups: O ecossistema de startups tem crescido no Brasil, não apenas em número de empresas criadas ou investimentos, mas na própria importância que esse segmento tem ganhado em termos de políticas públicas e interesse por parte de grandes corporações. Qual a importância da Abstartups para o ecossistema e quais suas propostas para desenvolver a associação e a comunidade de startups, como um todo?

Vinny Machado: A Abstartups foi fundamental no desenvolvimento do ecossistema de startups e inovação no Brasil. Além disso, teve papel importante na construção do Marco Legal das Startups e também em criar o primeiro grande evento do segmento em 2014, o CASE, que era considerado o maior evento de startups da América do Sul. A entidade, no passado, ajudou a rodar programas de mentorias e estudos nacionais para ajudar nosso país a entender mais sobre as startups em geral. A Abstartups foi, durante anos, o farol de mercado necessário para o ambiente de startups. Entretanto, há quatro anos, perdeu essa essência e tornou-se uma entidade que não tem colocado as startups como centro das discussões e ações.

Acredito que o primeiro passo para que a Abstartups volte a ser representativa é a transparência de suas ações. Também é importante a participação ativa através de programas e comitês junto aos associados, founders, comunidades de startups, mantenedores, associações locais e entidades representativas que desenvolvem programas de apoio e fomento à startups e negócios inovadores.

Para as comunidades queremos a participação ativa e frequente de todas as regiões do Brasil. Pediremos que essas comunidades elejam três representantes por região, para que possamos criar um Comitê de Ações Regionais. Além disso, vamos implementar mais comitês como Educação Empreendedora, Diversidade e Investimento. Também vamos finalmente tirar do papel o Conselho Consultivo, que está no estatuto da entidade e nunca foi ativado. Não é uma promessa de campanha. Temos nomes já confirmados que nos ajudarão em tomadas de decisão no campo institucional e ações de capilaridade.

Nossa chapa tem um olhar sério para a diversidade. Eu serei o primeiro presidente preto da associação e já tenho conversado com pessoas e conselheiros que podem ajudar em ações afirmativas e de afroempreendedorismo. Além de meus companheiros de chapa também defenderem bandeiras como empreendedorismo feminino, erradicação do assédio, comunidade LGBTQIAPN+, inclusão e saúde mental.

Lindomar Góes: A missão da Abstartups é criar um ambiente favorável para o nascimento e o amadurecimento de startups de sucesso no Brasil. E é isso que queremos impulsionar nos nossos dois anos de gestão. Entre as nossas principais propostas para colaborar com esse desenvolvimento, podemos citar a utilização de novas metodologias para o crescimento e desenvolvimento de startups. Desenvolvemos uma, por exemplo, no Amapá, que chamamos de máquina de startups milionárias. Um funil com fases e ações para cada fase da startup. Já implementamos por lá e oficialmente o Amapá saiu de 41 para 189
startups, segundo dados do observatório do Sebrae. Essa metodologia contempla 5 fases: curiosidade, ideação, operação, tração e escala.

Como essa, acreditamos que existam outras que possam ser testadas e disseminadas para o Brasil, respeitando as identidades e vocações naturais de cada região, e assim transformar o Brasil na maior potência mundial de startups. O objetivo é ser ousado, pensar grande e criar um plano para transformar o Brasil na maior potência de startups do mundo. Atualmente já estamos entre os top 5 melhores ecossistemas de inovação do mundo, segundo dados do G20. Isso mostra que podemos chegar lá. Além disso, queremos promover e incentivar startups de clima, meio ambiente e transição energética, principalmente por causa da COP ano que vem, nos colocando como líderes globais nessas discussões.

A falta de diversidade ainda é um problema nas startups. Segundo dados do Mapa do Ecossistema Brasileiro de Startups de 2023, divulgado pela própria Abstartups, menos de 20% dos fundadores são mulheres e apenas 23,7% são pretos ou pardos. Além disso, menos de 3% se declararam homossexuais. Há ainda um problema de diversidade geográfica, com quase 80% das empresas localizadas nas regiões Sudeste e Sul. Que medidas você pretende adotar para promover uma maior diversidade neste ecossistema?

Vinny: É por isso que serei o primeiro presidente preto da entidade, para mostrar que diversidade não é uma bandeira de campanha, mas uma realidade para nossa gestão. De fato, a falta de diversidade é um problema evidente no nosso ecossistema. Nossa chapa é formada por pessoas que, por anos, lutam para mudar esse cenário atual.

Em nossa gestão, vamos descentralizar decisões, bem como fomentar ações, eventos, programas e debates em todas as regiões do Brasil. Queremos nos próximos dois anos ter a felicidade de ter realizado eventos proprietários nas cinco regiões do Brasil. Além disso, a criação dos Comitês de Diversidade e Afroempreendedorismo vai endereçar esse problema e criar um plano de ação com treinamentos, manuais de boas práticas, ampliação das políticas públicas ligadas ao tema e parcerias para alterar esses números que nos preocupam.

O Comitê de Ações Regionais, com representantes eleitos pelas comunidades, será responsável por disseminar as ações e também ser uma linha aberta de diálogo sobre as necessidades de cada local. Na prática, teremos um processo de representar, fomentar, disseminar e contribuir efetivamente para trazer a diversidade ao cenário das startups brasileiro.

Lindomar: Esse realmente é um ponto bem importante. É preciso criar ações, políticas públicas e investir cada vez mais na democratização dos negócios para startups em todo o Brasil. A chapa se baseia num compromisso com a representatividade mais ampla e com a inclusão dentro da Abstartups.

Falando de diversidade de uma maneira geral, agora também com a ajuda do conselho, a ideia é que a gente a criação de GTs, crie mais diálogo, coloque esses temas em pauta para trazer todo mundo para a mesa.

Sobre diversidade regional, estou concorrendo para a presidência e Waldir segue como CFO. Ambos somos da Amazônia, que representa 59% do território brasileiro, mas possui apenas 5% das startups. Queremos transformar o Brasil na maior potência de startups do mundo e isso passa por fortalecer regiões que já são fortes, mas principalmente fomentar o surgimento de novas startups em regiões com mais carência, como Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Assim como apoiar startups de biotecnologia e bioeconomia. Trazer visibilidade para os projetos existentes, como por exemplo ampliar o trabalho já feito de “match” com investidores de todo Brasil, através do grupo de investidores que a Abstartups criou esse ano.

No ano passado, empreendedoras se juntaram para assinar uma carta contra o assédio no ecossistema de empreendedorismo e inovação brasileiro. O documento foi endereçado à Abstartups e cobra o compromisso da entidade em ajudar a erradicar o assédio em todas as suas formas. Inclusive, houve denúncias recentemente de assédio moral e sexual até mesmo dentro da associação. Quais são
suas propostas nesse sentido?

Vinny: Este é um problema sério e afirmo que é uma preocupação prioritária do DSPS. Nossa chapa em sua totalidade foi signatária da carta aberta, e é público meu compromisso com a causa da erradicação do assédio no ecossistema brasileiro de startups. Espero que essas denúncias sejam apuradas, não importa se é na entidade ou em uma startup, assédio é crime e não será tolerado.

É importante que a Abstartups tenha parcerias com entes públicos e privados que estão criando ambientes seguros para as pessoas. Já existem no Brasil protocolos oficiais, instituições e profissionais sérios dedicados a este tema e nosso Conselho Consultivo já contempla pessoas que são referência na temática, como a Tânia Gomes. Queremos priorizar o assunto com a Criação do Comitê Antiassédio e a implementação dos protocolos na própria entidade. Nosso compromisso público, e o assumo aqui e agora, é a política de tolerância zero dentro da Abstartups e nas ações e programas que ela executa.

É crucial que o ecossistema de startups tenha na Abstartups o apoio educacional sobre o tema, a criação de campanhas, códigos de conduta, treinamentos sobre assédio e materiais que ajudem as vítimas, bem como um trabalho contínuo para a criação de ambientes seguros dentro das startups e eventos do nosso meio. E isto começa com a própria associação, que pode liderar pelo exemplo e ajudar a direcionar as informações e canais para que as leis, procedimentos legais, boas práticas e as autoridades ligadas ao tema sejam conhecidas de todo o mercado de startups.

Lindomar: A Abstartups já esclareceu diversas vezes que não recebeu nenhuma denúncia sobre assédio, seja via compliance, ouvidoria ou via judicial. Desde 2023 a Abstartups possui ações internas, como uma parceria com o app contra assédio “Linha Direta”, que visam garantir o bem-estar e a segurança de todas as pessoas colaboradoras e associadas.

Nós iremos seguir com esse cuidado e comprometimento. Desde quando fundei a Proesc, minhas atitudes sempre foram sempre pautadas por princípios éticos: fazer o certo, com transparência e integridade. Sou contra todo e qualquer tipo de assédio, intimidação, violência, desrespeito ou preconceito, e caso haja qualquer denúncia, os casos serão investigados, a área de compliance da associação inclusive está preparada para isso. Nunca, repito, nunca respondi a nenhum processo judicial, a Proesc tem mais de 130 colaboradores e colaboradoras e 63% são mulheres.

Uma das críticas do DSPS é sobre a falta de transparência da Abstartups com relação a número de associados e ao próprio processo eleitoral, entre outros pontos. Como você pretende endereçar esse problema?

Vinny: Desde o dia 1 queremos nos debruçar sobre todos os documentos, tabelas, dados e tudo que for pertinente para entender o histórico de gestão e situação financeira da instituição. Isto será feito com auxílio de uma auditoria independente, o fortalecimento da área de compliance, a criação de um Comitê de Compliance com profissionais especializados e voluntários e a publicação de todos os dados e descobertas para associados, ecossistema e para a imprensa. O Conselho Consultivo será fundamental para isso, porque conta com advogados, ex-presidentes da entidade, membros da comunidade e atores importantes do nosso ecossistema.

Sobre os associados, associações como Anpei, ABVCAP e até mesmo ABFintech possuem os dados não sensíveis abertos e que não ferem a LGPD. Não há motivos legais para que o nome das startups associadas e o tipo de associação que possuem sejam de conhecimento público. O Portal da Transparência, que não está atualizado, finalmente servirá seu propósito.

Queremos implementar boas práticas de gestão como a publicação regular de relatórios financeiros, ter o mapa de associados aberto no site (observando a LGPD e os interesses dos associados), auditorias anuais e Assembleias de Associados sendo feitas no prazo. É inadmissível que a Abstartups não tenha ainda apresentado as contas da entidade de 2022 e 2023. Estamos em setembro de 2024 e os associados não sabem como está a situação financeira da entidade que tem de ser exemplar.

Ao mesmo tempo, não sabemos quantos são e quem de fato estatutariamente pode votar ou até mesmo criar chapas concorrentes. Mas a gestão atual sabe. E ela também está em campanha, o que fere a isonomia do processo eleitoral.

Lindomar: Já existem ações para garantir transparência e representatividade no ecossistema de startups. Nossa missão é fazer com que essas ações sejam sempre cumpridas, como vêm sendo. Entre as nossas propostas estão a criação de um conselho consultivo composto pelas maiores autoridades de startups no Brasil e o fortalecimento das iniciativas de compliance.

Desde 2021, no primeiro ano da presidência do Felipe Matos, foi estabelecida uma auditoria externa anual na associação. Também foi contratada uma assessoria contábil terceirizada e independente. A Abstartups criou pela primeira vez a área de compliance. Além disso, foi criado o canal de denúncias e ouvidoria, e um processo de licitação, onde todas as contratações para prestadores de serviço devem constar pelo menos três orçamentos.

A partir do que já foi criado, iremos estabelecer novos processos e garantir que esses funcionem. Acredito que muito do que falam de falta de transparência é resultado de um baixo engajamento com a associação de maneira geral e de conhecimento das regras e obrigações de uma associação. Creio que podemos endereçar isso criando diálogos com os associados, direcionando essas dúvidas e incentivando a participação.

Pela primeira vez na história da Abstartups, há duas chapas concorrendo à presidência. Existe divisão entre os membros da associação? Caso seja eleito, o que você pretende fazer para unir o ecossistema?

Vinny: Não há divisão entre iguais. Há visões diametralmente opostas de gestão, ecossistema de startups e relacionamento com a comunidade, o que torna a eleição democrática uma necessidade primária. E temos uma frente ampla de apoio. Mas é, ao mesmo tempo, uma grande alegria termos um processo eleitoral pela primeira vez na história da entidade.

Somos voluntários há mais de dez anos. Os membros do DSPS ajudaram o ecossistema e a própria Abstartups em várias ações, programas e causas E, enquanto Diretoria Eletiva também voluntária, teremos o trabalho constante de escutatória, cocriação e defesa do interesse das startups, das pessoas fundadoras das mesmas e das comunidades.

Como prova maior de nossa frente ampla, temos um Conselho Consultivo histórico, que tem credibilidade, respeito e endosso dos agentes de nosso mercado. Já confirmados estão nomes como Tânia Gomes, Guto Ferreira, Luiz Sales, Horácio Poblete, Rodrigo Lima, Erika Pelaez, Donjorge Almeida, Daniel Godoy e Amanda Graciano. E estamos ampliando o convite para assegurar que todas as regiões do Brasil tenham representantes em um Conselho estendido.

Teremos gente que nos ajudará nas decisões institucionais e nas ações de capilaridade. Com mais pessoas representando as regiões do Brasil e o auxílio do nosso conselho. E, uma informação importante: não há em nenhum lugar do Estatuto da Abstartups o cargo de presidente do Conselho Consultivo. Todos os nomes aceitaram o convite de maneira voluntária, porque acreditam nas pautas do DSPS e na necessidade urgente de mudança de rumo da Abstartups.

Lindomar: Entendemos que a participação de várias chapas na eleição da Abstartups é saudável
para o processo democrático e mostra a importância da associação para fortalecer o ecossistema de startups no Brasil. Não apoiamos comportamentos agressivos, falaciosos, persecutórios, assediadores ou coercitivos contra os candidatos da nossa chapa, os membros do conselho ou os associados que nos apoiam. Estamos comprometidos com a verdade para criarmos um ambiente justo e respeitoso para
todos.

Hoje temos conosco importantes nomes dentro do ecossistema de startups e tenho certeza que unindo nossas forças, podemos unir ainda mais nosso ecossistema e criar um ambiente mais diverso e próspero para as startups brasileiras.

O nosso Conselho inclui pessoas como Ingrid Barth, Anita Fiore, Kika Ricciardi, Daniel Leipnitz, Vanessa Poskus, Edgar Andrade, Michel Porcino, Camila Farani, Lindalia Junqueira, Roger Apolinario, Daniel Goettenauer, Aline Esteves, Rodolfo Fucher, Pierre Lucena, Olivia Boreti, Alessandra Martins, Adriana Alves e Adriana Faria.