Poucas são as startups que se tornam unicórnios, e, menos ainda, aquelas que conseguem realizar um IPO. Especialmente em momentos de menos euforia no mercado, o M&A acaba sendo a opção mais viável de saída para investidores e empreendedores. No entanto, muitas empresas acabam perdendo oportunidades por não terem se preparado para esse momento durante a sua trajetória.
A conclusão é de uma pesquisa da Questum, assessoria de M&As, que mostra que 90% das transações realizadas pelos participantes do levantamento em 2024 estão abaixo de R$ 200 milhões. Ou seja, esse é o valor máximo que as corporações têm pago na hora de comprar startups.
O Deals Report 2024 reuniu, em média, 20% dos principais players ativos do segmento de tecnologia. Segundo esses participantes, a maior parte dos deals até setembro (60) foram de até R$ 20 milhões. Em seguida, vem a faixa de R$ 21 milhões até R$ 50 milhões (59 deals).
Na faixa de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões foram 39 transações e, de R$ 100 milhões a R$ 200 milhões, apenas 13 deals. Apenas 8 aquisições foram acima de R$ 200 milhões.
“Isso não tem mudado com o tempo. A maior parte das saídas, historicamente, acontece nesse intervalo até R$ 200 milhões, o que significa que os valuations têm um teto. Muitos investidores e empreendedores não têm essa noção”, alerta Rafael Assunção, fundador e managing partner da Questum.
Um dos motivos para o baixo valor dos M&As é que existem poucos players no mercado brasileiro com condições de comprar startups. A bolsa de valores brasileira, a B3, tem pouco mais de 400 empresas listadas, e nem todas são potenciais compradoras (estatais, por exemplo). Entre as companhias de capital fechado, são poucas as que possuem capital suficiente para fazer esse tipo de investimento.
O estudo da Questum aponta que a maior parte das compradoras (31,8%) é do segmento de ERP e TI, como Sankhya e TOTVS. Mercado financeiro e Telecom também são setores importantes, com 22,7% e 18,2% dos participantes, respectivamente.
Para Rafael, um dos principais erros das startups é acabar atingindo um valuation que, na hora do exit, não será correspondido.
“Não adianta ter um valuation de mais de R$ 200 milhões, se não tem ninguém para comprar a empresa nesse tamanho. De forma geral, o investidor de venture capital gostaria de ter em seis, sete anos, um retorno de cinco vezes o valor do valuation. Isso significaria vender a empresa a R$ 1 bilhão. A questão é, tem quem compre? Eu não posso fazer captações como se estivesse no Vale do Silício. A bolsa de Nova York tem 3 mil empresas, é muito diferente”, alerta o managing partner da Questum.
Ainda de acordo com o relatório, mesmo os players que são historicamente bons compradores não costumam fazer mais do que 10 aquisições ao longo da sua história. O estudo mostra que, na série histórica, considerando o total de aquisições das empresas participantes, 72,8% adquiriram até 10 empresas, 22,7% compraram entre 11 e 50 empresas e, apenas 4,5%, de 51 a 100 empresas.
Rafael acredita que o gargalo não esteja no apetite por startups, mas sim na falta de empresas com o tamanho certo e organizadas o suficiente para serem adquiridas.
“No dia que nasce uma startup, nasce um compromisso de dar liquidez. É preciso entender que o negócio só vai dar retorno na saída, e o mais provável é que a startup seja vendida por R$ 100 milhões a R$ 200 milhões, então é preciso tomar decisões de funding e governança que estejam alinhados com esse alvo”, aponta o porta-voz da Questum.