Criada para profissionalizar a hotelaria independente do Brasil, a startup VOA Hotéis planeja seu próximo movimento no mercado nacional, com nova estratégia para ganhar escala e uma rodada de investimento em 2022.
A companhia surgiu em 2019 como uma rede de hotéis para dar suporte ao empreendedor independente que deseja alavancar os negócios. À frente do negócio estão José Eduardo Mendes, criador da agência de viagens online Hurb (antigo Hotel Urbano), e Gustavo Xavier, ex-banqueiro de investimentos da empresa de consultoria financeira Lazard.
Os primeiros anos foram inspirados na Oyo, startup indiana de hospedagem de baixo custo que chegou no Brasil no ano que a VOA foi fundada e sofreu um declínio vertiginoso com a pandemia. Hoje, embora a VOA faça parte do setor de turismo e hotelaria, a empresa se posiciona como uma sales tech. “Estamos no nicho travel, mas o que a gente pensa o tempo todo é ‘como vamos fazer o hoteleiro vender mais?’ A cultura da empresa é focada em venda e performance”, explica o Gustavo, diretor financeiro da VOA, em entrevista ao Startups.
Por meio de um software e uma plataforma digital, a companhia automatiza os processos de gestão interna e a precificação dos estabelecimentos, com um algoritmo que regula os preços das diárias de acordo com a ocupação, demanda e concorrência. A startup treina o time para garantir a satisfação dos hóspedes e oferece uma equipe especializada em distribuir o hotel em cerca de 300 canais de venda. O site da empresa informa que os serviços aumentam, em média, até 150% da receita.
Novos voos
Nos primeiros anos de operação, o objetivo da VOA era elevar os resultados de hotéis independentes de pequeno e médio porte, com algo entre 40 e 50 quartos. Recentemente, a companhia mudou a estratégia, mirando em propriedades maiores, de grande e médio porte, que buscam de força comercial, distribuição e tecnologia.
Segundo Gustavo, a mudança ocorreu por 2 motivos. “Começando a empresa achando que nosso fit seria com estabelecimentos menores, mas fomos positivamente surpreendidos ao ver que chamamos a atenção dos grandes hotéis, que também estavam aceitando muito bem o nosso produto”, diz o executivo. O portfólio já inclui nomes como o Hotel Nacional, no Rio de Janeiro, com 413 apartamentos.
O executivo reconhece que a companhia não estava tão estruturada para solucionar as demandas dos pequenos empreendedores do setor. “Operacionalmente, ainda não estávamos preparados para atender o hotel pequeno”, diz Gustavo. O executivo acrescenta que conforme a startup desenvolver e aperfeiçoar seu software, será capaz de servir estabelecimentos menores e, no longo prazo, também atender hotéis de maior porte.
A VOA soma 85 hotéis em seu portfólio, distribuídos em 17 estados, incluindo São Paulo, Rio, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Paraíba. Os esforços são direcionados para todas as regiões do país, mas com um olhar especial para o Nordeste, onde a empresa está em fase de prospecção em mercados como Natal, Bahia e Fortaleza. Além do time comercial e do trabalho de gerentes regionais, a startup tem parcerias com entidades, como as ABIHs (Associações Brasileiras da Indústria de Hotéis) estaduais, e secretarias de Turismo.
A meta é chegar a 250 empreendimentos sob gestão até o final do ano. Para escalar mais rapidamente e atrair parceiros, a VOA flexibilizou seus modelos de negócio. A companhia retirou a multa para rescisão de contratos e eliminou a obrigatoriedade da padronização das propriedades, que passa a ser opcional. Mesmo com a pandemia, a startup já é lucrativa e, segundo Gustavo, cresceu 5 vezes no último ano, quando entregou um GMV (Volume Bruto de Mercadoria) de R$ 72 milhões. A projeção para 2022 é ao menos duplicar esse resultado.
Nos preparos da série A
Para atingir seus objetivos, a startup se prepara para levantar uma rodada de investimentos série A, que deve acontecer ainda este ano. “Estamos sempre em conversa com os investidores e temos contato com fundos do mundo todo”, diz Gustavo. Ele não descarta um acordo com players internacionais, mas destaca o momento aquecido do venture capital no Brasil para buscar investidores locais.
O dinheiro será usado para aprimorar a tecnologia e a parte comercial. A startup planeja lançar um marketplace de aluguel de espaços para eventos em hotéis. Segundo o empreendedor, muitos estabelecimentos têm ótimas salas de reunião e salões, mas que são pouco usados na maior parte do ano. A ferramenta visa facilitar a conexão com potenciais locatários.
Mesmo sem dar detalhes, Gustavo adiantou que o portfólio vai crescer com a entrada da VOA em serviços financeiros, a fim de se tornar uma plataforma completa para apoiar os hoteleiros. “Já entregamos produtos importantes, mas existem muitos outros que queremos trazer para a mesa”, afirma o executivo. As novidades serão sustentadas pelos times comercial e de tecnologia, que devem aumentar de 10 para 50 pessoas cada.
Refletindo sobre o que a VOA quer de futuros investidores, Gustavo cita networking com outros empreendedores do setor e uma ajuda extra para encontrar os melhores talentos do mercado. “Buscamos alguém que nos provoque. Queremos entender o que está acontecendo fora de casa, mas como estamos focados nas nossas operações às vezes não conseguimos ter a clareza que um investidor teria”, diz o executivo. “O investidor consegue trazer uma visão mais ampla em relação ao que está acontecendo no mercado, em termos de estratégias e tecnologias”, conclui.