Muito tem se falado sobre o novo perfil de empresas buscado pelos investidores, que deixaram de focar em crescimento acelerado para favorecer negócios com crescimento sustentável. Mas no nicho do corporate venture capital (CVC) existe um fator que é ainda mais importante: a sinergia. Em entrevista exclusiva ao Startups, Ivan Yoon, head de Investimentos & Portfólio da Wayra e Vivo Ventures, conta que o apetite para investir é diretamente proporcional à vontade de inovar da corporação. E afirma que, na hora de escolher o destino dos aportes, a preferência é para as soluções que se integrem às necessidades da companhia.
A Wayra Brasil é o CVC da Telefónica/Vivo focado em startups em estágio inicial (seed e pré-seed), com tickets até R$ 2 milhões. Já a Vivo Ventures é o Fundo de Investimentos em Participações (FIP) da Vivo para investimentos estratégicos, e é voltada para startups em estágio de desenvolvimento mais avançado, como séries A e B (growth). Hoje, o fundo conta com até R$ 320 milhões disponíveis para aporte.
A ideia, segundo Ivan, é que ambos se complementem. Depois de receber os primeiros investimentos para desenvolver e testar seus produtos com a ajuda da Wayra, a startup, já mais madura, pode então passar a receber o apoio da Vivo Ventures para acelerar. “No early stage a gente consegue investir sem uma perspectiva tão grande de sinergia. É um momento em que a empresa ainda tem que se provar muito e escalar. Nesse momento, olhamos mais para o tamanho do mercado e qualidade dos fundadores, por exemplo. Quando se fala em growth, aí sim olhamos o retorno financeiro e o pilar da sinergia de fato”, aponta o executivo.
Investimento estratégico
Uma das dificuldades enfrentadas pelo venture capital atualmente é que a renda fixa continua atrativa para os investidores, fazendo com que o capital de risco seja deixado de lado. Esse movimento tem começado a mudar, mas o retorno da liquidez ainda é lento. Para Ivan, o diferencial do CVC é que o investimento em startups vai além da questão financeira e faz parte da estratégia de inovação da companhia. Isso faz com que a disponibilidade dos recursos esteja menos sujeita aos movimentos de mercado, como valuations e taxas de juros, por exemplo.
“Hoje existe um consenso na Vivo de que as iniciativas de CVC são importantes para a inovação da companhia, e existe um apetite para inovação muito grande e um objetivo de acelerar nossas iniciativas digitais. A Vivo é uma empresa com negócios em diferentes áreas, então conseguimos encaixar startups de todos os tipos, desde fintechs, até o setor de energia, educação, saúde. O potencial de sinergia é muito grande”, afirma Ivan.
Com 84 empresas investidas desde 2012 e 25 startups investidas atualmente, a Wayra calculou que, em 2023, 43,3% do seu portfólio fazia negócios com a Vivo. Já a Vivo Ventures investiu em quatro empresas desde 2022 e tem duas novas startups em seu portfólio: Digibee e Conexa.
Via de mão dupla
Mas se, por um lado, os investidores estão mais exigentes com as startups, os fundadores também estão mais exigentes com os investidores, afirma Ivan. É que, segundo o executivo, muitas dessas empresas aproveitaram o momento de falta de liquidez no mercado para equilibrar as contas e fazer o negócio crescer por conta própria. Com isso, a necessidade de recursos externos diminuiu.
“Tem muitas startups que estão chegando no breakeven e não querem levantar recursos só por levantar. Muitas estão começando a perceber o quanto o CVC é estratégico para elas, justamente por ter essa sinergia. Tem startups que estão dispostas a abrir uma rodada exclusiva para a Vivo, houve algumas operações que estruturamos que foram basicamente isso. A atratividade vai além dos recursos”, avalia o executivo da Wayra.