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Antes de se aventurar no mundo das startups, Aurora Suh fez carreira em grandes empresas de capital aberto. Foram três anos na NET (hoje Grupo Claro), nove na Vivo-Telefônica, quatro na Totvs e uma temporada na Linx. Nesse tempo, acumulou experiências como diretora de estratégia comercial, de operações e até superintendente de marketing.

Por estar acostumada a trabalhar em corporações e multinacionais, quando recebeu a proposta para ser Chief Revenue Officer (diretora de receita) da Omie, o primeiro impulso foi dizer não. Mas depois de cinco meses de conversas com o fundador Marcelo Lombardo, não tinha mais como fugir: se apaixonou pelo propósito e visão de negócio da plataforma de gestão (ERP) na nuvem.

Movida pela diversidade e justiça social, a executiva criou a AKIPOSSO+, instituição sem fins lucrativos que usa tecnologia para promover a inclusão social e a transformação na vida de pessoas em situação de vulnerabilidade, como forma de amenizar os impactos sociais que foram acentuados durante a pandemia da Covid-19. E como se já não fosse o bastante, ela ainda divide o seu tempo realizando mentorias na Endeavor e sendo membro do conselho da Ellevate Network, grupo de mulheres criado para apoiar a presença feminina no mercado de trabalho.

Em um papo de peito aberto com o Startups, Aurora falou sobre seus projetos sociais, desafios como CRO da Omie e diversidade no mercado de tecnologia. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa.

Ao longo da sua carreira você passou por grandes corporações. Qual foi a motivação para entrar no mercado de startups e aceitar o desafio de ser CRO da Omie?

Realmente atuei em grandes companhias, inclusive de capital aberto. Passei por áreas de comercial, marketing, planejamento e estratégia, incluindo quase 10 anos na Telefônica/Vivo. Mas percebi que o telefone fixo um dia iria morrer e que a banda larga estava virando commodity. Naquela época o mercado de TI ganhava força e tinha muita coisa acontecendo.

Tem que ter um pouco de sorte, conhecer pessoas que te ajudem a abrir portas. Conheci uma conselheira da Totvs e assim iniciei minha trajetória no mercado de tecnologia, há exatamente 10 anos. Os desafios eram muito interessantes, porque a Totvs estava em um estágio anterior ao das empresas que já trabalhei em termos de eficiência comercial, crescimento e indicadores. 

Conheci o Marcelo Lombardo, diretor-executivo e fundador da Omie, na pandemia. Não tinha familiaridade com esse mundo de startups e achei que não daria certo. Trabalhei em empresas maiores e quando você vai para um negócio bem menor, que de fato tem que colocar a mão na massa e não tem todas as estruturas, é muito diferente. É velocidade e agilidade, tem que crescer todos os meses e, ao mesmo tempo, balancear o curto prazo com as ações estruturantes. Porém acabei me apaixonando e foi a melhor decisão que tomei na minha vida profissional. Deu muito frio na barriga, mas entrei de cabeça.

Quais são os seus maiores desafios como CRO da Omie?

Como responsável pela área de receitas, o desafio é equilibrar o curto e médio prazo. Tem que olhar para o crescimento mês a mês e também pensar nas estratégias para daqui 6 meses e 1 ano, com metas que muitas vezes são o dobro do que fazemos hoje. Construir o time foi muito importante. Não só engajar quem já estava na companhia; também trazer perfis novos. O mais difícil é alinhar o fit cultural dessas pessoas, porque o currículo não necessariamente faz com que o colaborador tenha sucesso na empresa.

Além disso, os índices de crescimento de uma startup e scale-up são muito diferentes aos da empresa tradicional, assim como a cobrança. Já percebíamos a necessidade de trazer perfis executivos, mas com espírito de dono, porque tem que fazer acontecer e acreditar no negócio. Entender o que precisam fazer e ser muito responsável pela entrega do resultado.

Diversidade no mundo da tecnologia é outra questão importante. Como mulher, me sinto empenhada com o compromisso de mudar isso. Tive uma grata surpresa quando cheguei na Omie porque 48% do quadro de efetivos na startup é mulher e 49% da liderança é feminina. Temos uma empresa muito equilibrada em termos de gênero. O comitê de diversidade é mais amplo, olha também para a questão racial, LGBTQIA+ e temos resultados incríveis. Acredito na diversidade, olhando tanto para justiça social quanto para o negócio.

Não tem como não incluir pessoas diversas na empresa se na população brasileira mais de 50% são mulheres e pessoas negras. Ter um negócio que não reflete isso é não levar o seu negócio para a sociedade. É um tema desafiador que começamos a olhar com muita prioridade.

Como tem sido trabalhar ao lado de Marcelo Lombardo? O que você aprendeu desde que começaram a trabalhar juntos?

Ele foi muito claro e transparente em relação a suas expectativas com o meu trabalho. Foi um grande namoro, conversamos por 5 meses e no início realmente achei que não daria certo. Começamos a conversar para ajudá-lo a achar uma pessoa para a posição de CRO. O Marcelo é muito carismático, mas deixa suas expectativas muito claras: desafios, o que não abre mão, onde ainda quer chegar. Isso facilitou muito, porque também sou muito objetiva.

A questão do propósito é algo que não tinha vivido até então nas empresas onde trabalhei, e na Omie é muito forte. Queremos transformar o empreendedorismo do país – algo que tem muito a ver com o que eu acredito. A gente tem a ambição de querer transformar. Sou filha de pais imigrantes, que vieram da Coreia do Sul com poucos recursos para o Brasil e a única saída foi empreender. Quando chegaram, meu pai abriu uma melancia em 30 pedaços e começou a vender, viu que dava lucro e seguiu.

Com o tempo começaram a ter os negócios próprios, com muitos altos e baixos. Já tenho essa história com o empreendedorismo e sei o quanto é difícil. Foi muito legal quando entrei na Omie e vi que ela tinha esse propósito. O Brasil tem a legislação fiscal e tributária mais difícil do mundo e conseguir entregar uma gestão mais profissional para o empreendedor crescer é algo que está muito alinhado com o meu propósito pessoal.

Durante a pandemia você criou a AKIPOSSO+, instituição sem fins lucrativos que visa promover a transformação na vida de pessoas em situação de vulnerabilidade. Que tipo de ações vocês promovem para gerar impacto na sociedade?

A AKIPOSSO+ é um instituto social, mas a gente toca a operação como uma startup social. Tenho um relacionamento forte com um grupo de mulheres há muitos anos. Na pandemia, nos vimos no dever de ajudar pessoas que estavam perdendo empregos e passando fome. Começou como um movimento de arrecadação de R$ 100 mil em cestas básicas. Percebemos que poderíamos fazer muito mais, e assim surgiu a AKIPOSSO+ (ex-ARCAMAIS). 

Desenvolvemos um aplicativo marketplace de oportunidades de doação, vagas de trabalho, cursos, consultas, dicas, entre outros. Acompanhamos a transformação dessas pessoas; sabemos quem é cada um e o estágio em que estão. Temos histórias muito legais de pessoas que receberam uma doação, fez um curso de como fazer bolos e aquilo virou renda. 

A próxima etapa é valorar nosso impacto social. Temos parceiros grandes como Unilever, que às vezes querem doar algum produto e usam o app para chegar nas pessoas. Vimos que a dor das grandes empresas é exatamente valorar e entender se o benefício de fato chegou às pessoas. Na AKIPOSSO+, conseguimos mostrar para as corporações quem recebeu a doação, e ainda acompanhamos a transformação da vida delas.

CRO na Omie, founder da AkiPossoMais, mentora na Endeavor… Como você faz para conciliar todas essas responsabilidades?

Sou muito organizada. Dedico 10% do meu tempo para o Instituto e a mentoria da Endeavor acontece uma vez por semana. A Omie consome grande parte da minha agenda. Mas acho importante ter agendas pessoais também, o equilíbrio é fundamental. Meu hobby é dançar jazz há mais de 6 anos. Percebi que dançando de fato conseguia me concentrar. Não dá para acompanhar a coreografia se não estiver concentrada, e isso foi um grande achado. Era uma forma de não pensar em absolutamente nada além da dança.

Raio X – Aurora Suh

Um fim de semana ideal tem… Uma boa taça de vinho e uma mesa com comida, amigos e família

Um livro: “Um Mundo de Três Zeros”, de Muhammad Yunus, que fala sobre caminhos para combater a pobreza, o desemprego e solucionar a questão das emissões de carbono. Outro livro que gostei muito é “Leading Without Authority”, de Keith Ferrazzi, que traz uma visão da época louca da pandemia e como liderar nestes tempos.

Algo com que não vivo sem: Exercício

Uma música favorita: Não tenho, sou muito eclética. Gosto de rock, pop e música clássica

Um prato preferido: Adoro qualquer tipo de arroz

Uma mania: Sou a louca da agenda

Sua melhor qualidade: Sentimento de dono

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