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Startup Summit: Apesar da crise, startups early stage não diminuíram ritmo

Para Alexandre Souza, do Sebrae SC, e organizador do Startup Summit, que começa amanhã em Florianópolis, crise vai mostrar quem "vendia vento"

Foto: mohamed Hassan/Pixabay
Foto: mohamed Hassan/Pixabay

O inverno chegou, mas não está faltando dinheiro para todo mundo. Pelo menos, é o que diz Alexandre Souza, coordenador do projeto Startup SC, do Sebrae Santa Catarina. Analisando o momento atual do mercado, o executivo afirma que os maiores impactados pela crise serão startups que estavam captando rodadas exorbitantes e jogando os valuations nas alturas.

“Para startups early stage em rodadas anjo, pré-seed ou seed, ainda não vimos uma grande diminuição no ritmo”, diz Alexandre em entrevista ao Startups. As captações de startups em estágios seed e early stage no Brasil tiveram alta de 21,5% no 1º semestre, para US$ 1,68 bilhão. Segundo balanço feito pela plataforma de inovação aberta Distrito, houve uma alta de 86% entre startups que captaram investimento anjo, pré-seed e seed, passando de US$ 151 milhões entre janeiro e junho de 2021 para US$ 282 milhões no mesmo período de 2022.

Segundo Alexandre, a crise vai revelar quais empresas estavam apenas “vendendo vento” e quais realmente têm chance de crescer. As perspectivas para os próximos 12 meses, pontua o executivo, são de muita incerteza – isso no ecossistema como um todo e também no Brasil, que além das tensões macro vive suas próprias instabilidades políticas e econômicas.

“Vai ter menos recursos e gente sendo mandada embora. Mas acredito que as boas startups, aquelas que realmente são inovadoras e têm projetos escaláveis de grande potencial, vão sobreviver”, diz Alexandre. Ele tenta ver o copo meio cheio: “é nas crises que grandes ideias nascem. Vamos começar a ter muitas novas startups nascendo para problemas que a gente talvez não conheça ainda.” Alexandre cita o Airbnb e o Uber como exemplos de grandes unicórnios mundiais que nasceram na crise (em 2008 e 2009, respectivamente).

Para ele, a correção também é importante porque no passado algumas startups estavam com os valuations inflados demais. “Tinha muito dinheiro disponível e parecia fácil captar mais. Muitas avaliações não estavam de acordo [com a situação das empresas] e agora todo mundo tem que arrumar a casa”, pontua. Ele ressalta que as empresas precisam se preocupar em fazer caixa para sobreviver por conta, e observa que os empreendedores maduros, que já fundaram outras empresas, tendem a passar melhor pela crise.

Startup Summit

Para discutir esse e outros temas, o Sebrae, em parceria com a Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) e Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif), promove o Startup Summit, que acontece nos dias 4 e 5 de agosto em Florianópolis. Segundo o executivo, a crise no ecossistema forçou até a organização do evento a se adequar.

“Muitos dos palestrantes que vão participar foram convidados no ano passado, quando ainda tinha muito dinheiro no caixa. Mas agora a gente precisa falar da crise e das demissões”, afirma. Ele acrescenta que a organização pediu para que os convidados adequassem suas falas ao momento atual. “Estamos pedindo para que todo mundo fale sobre isso e realmente abra o capô das suas empresas para mostrar como estão se adequando a essa nova realidade.”

A edição reunirá mais de 90 palestrantes, 7 palcos e 14 trilhas de conteúdo para discutir assuntos estratégicos para empreendedores de startups e empresas de alto crescimento. Estão previstos 5.500 participantes e 120 startups de diferentes estágios de desenvolvimento. “O evento fortalece a missão do Sebrae de capacitar os empreendedores e startups em fase de validação, operação e tração com a ajuda de palestrantes que já passaram por toda essa trajetória”, explica Alexandre.

Alexandre Souza, coordenador do projeto Startup SC, do Sebrae Santa Catarina
(Foto: Divulgação)
Alexandre Souza, coordenador do projeto Startup SC, do Sebrae Santa Catarina
(Foto: Divulgação)

Como anda Florianópolis

Alexandre descreve o ecossistema em Santa Catarina como “peculiar”. De um lado, é um ecossistema maduro que se formou há muito tempo. Segundo o executivo do Sebrae, algumas ações com empreendimentos inovadores surgiram por lá no fim da década de 1970 e início da década de 1980, quando o termo “startups” ainda nem existia no país. Do outro, é uma região que ainda aguarda o nascimento do seu primeiro unicórnio.

“Florianópolis é a cidade com maior densidade de startups no país [considerando o número de habitantes], com cerca de 5 mil empresas. Mas a grande maioria é de pequenas startups, B2B e modelo SaaS. Normalmente são empresas que nunca vão chegar a ser um unicórnio”, diz o executivo.

Os grandes players da região, que acabam servindo de referência para as outras startups, são a RD Station (Florianópolis) e Conta Azul (Joinville) – ambas com soluções SaaS para empresas. “É a escola que temos por aqui. O empreendedor se inspira nelas e quando vai montar a sua startup faz algo parecido com aquilo que ele conhece”, explica Alexandre.

O executivo não vê isso como um problema, pois as startups seguem gerando empregos e fomentando a inovação na região. “Eu prefiro ter 100 empresas desse tipo, que valem de R$ 30 milhões a R$ 150 milhões, do que apenas 1 unicórnio. Elas estão gerando muitos empregos e investimento no Estado – e ainda podem ser vendidas para os unicórnios”, pontua.

Só no ano passado, 12 empresas do programa de aceleração do Startup SC foram vendidas. Entre elas, a PagueVeloz, adquirida em outubro pelo Serasa Experian, e a Clínica das Nuvens, comprada pela Bionexo no mês seguinte. A RD, antes Resultados Digitais, era o player com mais chances de virar unicórnio, mas foi vendida antes para a Totvs, por R$ 1,8 bilhão.

“Em Santa Catarina temos muitas empresas que serão compradas e com a dificuldade de levantar capital veremos cada vez mais processos de M&As. É uma característica, não um problema. Tem muitas startups boas por aqui”, diz Alexandre. Ele não descarta que no futuro uma empresa catarinense entre no clube dos bilhões, mas ressalta que isso não deve acontecer tão cedo.

O Startups vai até Florianópolis esta semana para ver de perto as oportunidades do ecossistema. Nosso editor-chefe, Gustavo Brigatto, tem presença confirmada no Startup Summit e vai moderar o painel “Omie, Sólides e a era dos decacórnios”, ao lado de Monica Hauck (fundadora e presidente da HRTech Sólides) e Marcelo Lombardo (diretor-executivo da Omie, de gestão ERP). A conversa acontecerá dia 5 às 10h45.

Os ingressos presenciais já estão esgotados, mas você ainda pode garantir o seu ingresso gratuito para acompanhar o evento virtualmente.