Não é nada fácil ser mulher no ecossistema de inovação brasileiro. A dificuldade de obter investimentos, conciliar várias jornadas de trabalho e conectar-se com outros empreendedores são apenas alguns desafios enfrentados ao longo dessa jornada. Frente à falta de oportunidades e incentivos, apenas 4,7% das startups no país foram fundadas exclusivamente por mulheres, quase 20 vezes a menos do que aquelas só com fundadores homens, de acordo com o estudo Female Founders Report 2021, feito por Distrito, Endeavor e B2Mamy.
Foi para reverter esse cenário e potencializar a presença feminina no setor que nasceu a The New Squad, hub que visa acelerar marcas e negócios digitais criados por mulheres. Fundada há cerca de 4 meses por Francieli Balem (ex-agente local de inovação do Sebrae Santa Catarina e avaliadora de inovação da Fundação Nacional da Qualidade), a rede já reúne mais de 150 fundadoras de empresas dos mais variados estágios, segmentos e regiões do país.
A comunidade recebe aconselhamento especializado, orientação e apoio das principais lideranças do mercado de inovação do país. Até o momento são 18 mentores entre founders, executivos e investidores-anjo, incluindo Clara Bidorini, manager de Digital Native Business na AWS; Angelica Nkyn, investidora-anjo membro do Anjos do Brasil; e Guilherme Tavares, diretor da Juvo e ex-Cubo, Itaú, Neoway e Neon.
As mentorias individuais e coletivas oferecem suporte de treinamento de pitch, aprimoramento dos modelos de negócios, insights sobre o mercado, entre outros. As empreendedoras também têm acesso a um espaço de coworking na cidade de São Paulo e aos serviços de empresas parceiras como HubSpot, Oracle e Bhub, fintech especializada em modelo backoffice as a service.
Inicialmente, os benefícios foram disponibilizados gratuitamente, mas em breve o hub adotará um modelo de assinaturas. “A proposta da The New Squad não é falar só sobre equidade de gênero. Trabalhamos com negócios que faturam, ou tem potencial de faturar, milhões por ano. Estamos aqui para potencializar ainda mais essas empresas, sejam elas startups ou DNVBs (marcas nativas digitais)”, explica Francieli.
A expectativa é ampliar o leque de serviços nos próximos meses. Em dezembro, as founders da rede farão uma primeira visita técnica à UAUBox, beautytech que envia caixinhas mensais com produtos de beleza e autocuidado. O hub pretende investir em um serviço de matchmaking, aproximando as empreendedoras de grandes corporações cujas demandas podem ser resolvidas com a ajuda das startups da rede.
Desafios e oportunidades
A The New Squad tem empreendedoras de diferentes regiões do país, incluindo Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Roraima, São Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Entre as mulheres fundadoras de startups que fazem parte da rede estão Gabryella Corrêa (Lady Driver), Leilane Sabatini (Cansei Vendi), Ana Zucato fundadora (Noh), Marina Apolinario (For Black Hands) e Victoria Hipolito, Laila Palissy e Andreia Ferreira (Engagers).
Um ponto importante a ser discutido é em relação à interseccionalidade. Com foco na equidade de gênero, o hub ainda não trabalha um olhar afirmativo para outros marcadores de diferença, como mulheres negras, indígenas, com deficiência e LGBTQIA+, entre outros. “A diversidade é muito ampla. Estamos focados em equidade de gênero, mas também temos algumas fundadoras negras e LGBTQIA+”, diz Francieli. Ainda assim, elas são minoria dentro da rede.
O hub vem crescendo com recursos próprios e é tocado exclusivamente por Francieli. No próximo ano, a empreendedora vai abrir a primeira captação – um aporte no formato Family, Friends and Fools (quando amigos, colegas e familiares se unem para investir na empresa de estágio inicial). Os recursos serão usados para estruturar o time, com 3 ou 4 contratações, e investir em marketing.
Para o próximo ano, o objetivo é colocar a assinatura no ar e começar a monetizar a The New Squad. “Serão diversos planos para atender aos diferentes estágios de startups. Temos empresas no início de suas jornadas e outras que já captaram milhões, então a ideia é ter opções para cada caso”, explica Francieli. Ela cita como oportunidades a criação de imersões e capacitações para que as fundadoras estejam ainda mais preparadas para levantar investimento.