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“Quando se fala em empreendedorismo social, as pessoas sempre vão para o lugar da carência, nunca para o da inovação e do investimento”, disse Preto Zezé, presidente da Central Única das Favelas (CUFA), no segundo dia de RD Summit, em Florianópolis. Mas o social não anda sem o econômico – principalmente no sistema econômico dominante em todo o mundo. 

“É preciso entender que há muita inteligência brasileira e pessoas fazendo ótimas coisas. Mas o Brasil invisibilizado está produzindo no precário. As marcas, empresas e agências precisam se reposicionar para dialogar com esse outro Brasil, vendo ele como potente e inovador. Aprender a dialogar, conectar e produzir com ele”, explica Zezé.

Para Egnalda Côrtes, CEO da Côrtes Assessoria, o termo empreendedorismo social parece conflitante. “Se é social, a premissa é algo para todos. Mas o empreendedorismo em sua lógica capital faz com que alguns percam e fiquem na base, enquanto outros ganham”, reflete.

Adriana Barbosa, CEO da plataforma PretaHub e presidente do Instituto Feira Preta, explica que é importante ressignificar o conceito. “O empreendedorismo social tem a ver com possibilidade de acesso. Ou seja, incluir uma parcela da população que não é reconhecida por questões de desigualdade. Não é empreender só para acúmulo dos sócios; tem que ser para todos”, pontua.

No entanto, não existe receita de bolo para quem quer entrar nesse processo. A boa notícia, segundo Adriana, é que o mercado brasileiro já evoluiu muito nos últimos anos. “Hoje temos um ecossistema muito potente de pessoas e organizações que fazem muito, em especial no empreendedorismo negro, olhando para campos de tecnologia, cultura, moda e mutis outros”, afirma.

Entre elas, o Movimento Black Money, fundado por Nina Silva com o intuito de transformar, educar e fomentar o empreendedorismo negro, e a AfroBusiness, associação sem fins lucrativos que visa promover e integrar empreendedores, intraempreendedores e profissionais liberais fortalecendo a população negra. Adriana cita também a aceleradora baiana Vale do Dendê,  com foco em diversidade, e o Festival Latinidades, encontro de saberes e potências de mulheres negras.

Preto Zezé (CUFA), Adriana Barbosa (PretaHub), Egnalda Côrtes (Côrtes Assessoria) e Carlos Pignatari (Ambev)
Preto Zezé (CUFA), Adriana Barbosa (PretaHub), Egnalda Côrtes (Côrtes Assessoria) e Carlos Pignatari (Ambev)
(Foto: Green Fotografias/Divulgação)

Como dicas de desenvolvimento, capacitação e geração de negócios, Adriana diz que o primeiro passo é mapear e se conectar com todas essas redes, fortalecendo o apoio e senso de comunidade. Além disso, é importante entender as terminologias e os códigos do setor (aqueles jargões e termos mais pomposos das diversas áreas) – seja para utilizá-los, questioná-los ou propor outras soluções.

“Por fim, precisa ter coragem mesmo com toda a complexidade e frio na barriga. É preciso desenvolver uma musculatura emocional e se fortalecer psicologicamente para lidar com os desafios, como o racismo, para poder avançar”, afirma.

O painel contou também com a participação de Carlos Pignatari, diretor de impacto social da Ambev. Segundo o executivo, os trabalhos de diversidade e inclusão da gigante de bebidas partem da premissa de crescimento compartilhado. “É entender os lugares de poder, onde estamos posicionados e o que podemos fazer para reduzir essas diferenças e crescer em conjunto”, explica.

(A jornalista viajou a Florianópolis a convite da RD Station)

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