No mundo de hoje, dificilmente uma empresa conseguirá crescer sem se preocupar com o ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa). Isso inclui, entre outros fatores, a preocupação com a diversidade e inclusão no ambiente de trabalho. No caso da Vindi, fintech com soluções para recebimento e gestão de pagamentos recorrentes, o compromisso envolve conscientização da liderança, contratações afirmativas e capacitação profissional.
Segundo Fernanda Ramos, head de pessoas da Vindi, a companhia tem um olhar para a diversidade desde a sua fundação em 2013 e já buscava contratar pessoas com diferentes habilidades e formações – algo que partia, inclusive, dos próprios fundadores Rodrigo Dantas, Reginaldo Dutra e Wagner Narde. No entanto, foi a partir de 2019 que a pauta de diversidade e inclusão tornou-se uma frente estruturada, graças à criação de um comitê de D&I responsável por propor ações, provocar debates e apoiar a transformação cultural da empresa.
Os projetos começaram de fato em 2021, quando a companhia já havia se reestruturado depois de um ano de pandemia e trabalho remoto. Nesse meio tempo, muita coisa mudou. A Vindi foi adquirida pela Locaweb por R$ 180 milhões e trocou de sede, deixando a Sena Madureira e se realocando para um prédio comercial no Paraíso. “O primeiro passo foi entender o quanto o nosso ambiente já era inclusivo, incluindo avaliações do banheiro, escada, rampa e elevadores”, afirma Fernanda.
A partir daí, o comitê estabeleceu como pauta prioritária a inclusão de pessoas com deficiência (PcD). Com o tempo, a empresa ampliou o leque com ações para diversidade racial, de gênero e sexualidade. A Vindi criou vagas afirmativas, adotou uma linguagem mais neutra para se posicionar como empresa e estabeleceu um calendário de ações com palestras e encontros para troca de conhecimento. Entre os temas abordados, estavam saúde mental, conscientização do autismo, letramento LGBTQIA+ e consciência negra, pensados com o apoio da consultoria Travessia.
Construindo cultura
“Quando começamos a trabalhar a diversidade e inclusão na empresa sabíamos que cotas e vagas afirmativas seriam uma consequência. O desafio não era contratar e sim reter. A grande preocupação era com o ambiente de trabalho: tendo ajustado o espaço físico e contratado os profissionais, precisávamos que a equipe toda tivesse a mentalidade de inclusão”, afirma Fernanda. Em outras palavras, não basta contratar pessoas diversas; é preciso integrá-las ao restante da empresa e assegurar que sejam acolhidas, respeitadas e tenham oportunidades de crescimento.
Segundo a executiva, a transformação da cultura organizacional da Vindi envolve um trabalho forte com as lideranças. “O principal é dar conhecimento e trazer a informação para que repensem vieses inconscientes, reconheçam seus lugares de fala e possam trabalhar com essa diversidade”, pontua Fernanda. Ela acrescenta que os líderes passam por capacitações e treinamentos variados, e que a companhia tem um canal de denúncias anônimas e realiza pesquisas anônimas com os colaboradores para avaliar como eles se sentem no ambiente.
Em 2020, a Vindi foi eleita a empresa mais ética do setor financeiro no Brasil, segundo a consultoria Virtuous Company – um resultado que Fernanda atrela à cultura organizacional da fintech. “A ética está amarrada com respeito, com cultura e com o nosso ambiente de trabalho. Promovendo diversidade, temos discussões mais ricas, somos mais criativos e estamos constantemente sendo provocados a pensar lugares que antes não pensávamos”, argumenta.
Sem abrir números, ela afirma que a adesão dos colaboradores na agenda de D&I é “altíssima”, e que a companhia olha para desenhar as próximas estratégias. “O resultado fala por si só. Nossa retenção também é muito boa, e o fato de não trocarmos de time o tempo todo faz com que as pessoas estejam conectadas e a operação seja coesa. Tudo isso eleva a empresa para outro patamar.”
A Vindi hoje
O último Censo de Diversidade e Inclusão da companhia, realizado em maio de 2022, contou com uma adesão de 67% dos colaboradores da Vindi – 214 pessoas. E o que chama a atenção é a representatividade feminina: 54% do time é composto por mulheres, um aumento de 7 pontos percentuais em relação a 2021, e elas representam 42% da liderança da empresa, um avanço de 2 pontos percentuais. Na área de tecnologia especificamente, 13% do quadro é feminino e 3% delas ocupam cargos de liderança.
Na Vindi, 2% dos colaboradores são pessoas com deficiência, um salto de 2 pontos percentuais em relação a 2021. Além disso, 18% se identificam como LGBTQIA+ (queda de 7 pontos percentuais), incluindo 8 pessoas na liderança e 1 pessoa trans. No quesito diversidade etária, a maioria (63% do quadro total de colaboradores) faz parte da geração Y, com uma média de idade de 31 anos. A companhia tem 3 pessoas com mais de 50 anos.
Cerca de 28% da equipe é formada por pessoas negras e 13% delas estão em posição de liderança, valores que caíram 3 e 2 pontos percentuais no último ano, respectivamente. Em termos de interseccionalidade, a empresa revela que 7% da liderança é formada por mulheres negras, avanço de 7 pontos percentuais em relação a 2021. A partir dos resultados, a Vindi traçou suas metas para 2023. “O foco é ter mais pessoas negras no time, principalmente na alta liderança. Também vamos aumentar a presença de mulheres em tecnologia”, afirma Fernanda. No entanto, ela não revela qual é a projeção para o próximo ano, e a agenda de D&I da Vindi para 2023 ainda está sendo estruturada.
Os resultados, é claro, sempre podem ser melhores, mas já estão acima da média do mercado. De acordo com o Mapeamento do Ecossistema de Startups no Brasil 2021, realizado pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups), a maioria (90,3%) das empresas não tem nenhuma pessoa com deficiência no time. Outros 31,2% afirmam não ter nenhuma pessoa negra na equipe. Também é maioria as empresas sem colaboradores com mais de 50 anos (62,3%) e sem nenhum funcionário trans (92%).
Fernanda reconhece que ainda há muito trabalho a ser feito na Vindi, mas considera a empresa cada vez mais preparada para endereçar essas questões. “Em 2023 vamos manter aquilo que já fazemos e aprimorar para outro patamar, criando mais maturidade. Já evoluímos bastante, mas estaremos eternamente aprendendo e buscando melhorar”, pontua Fernanda. Segundo a executiva, o avanço na pauta de diversidade e inclusão segue sendo prioridade para os fundadores da empresa.
Um dos projetos que deve ser realizado no próximo ano é o Transforma Vindi, programa de capacitação básica em programação. A iniciativa inclui treinamento com profissionais da fintech, imersão no ambiente de trabalho e contratação dos alunos que mais se destacaram no processo. Aqueles que não forem selecionados são encaminhados para empresas parceiras como Itaú e Alura e recebem acompanhamento da Vindi até ingressarem no mercado. A primeira edição foi realizada com pessoas em situação de vulnerabilidade. Em 2023, a expectativa é fazer duas edições – PcD e pessoas negras ou indígenas.