Kadabra propõe criar ‘sistema de ensino’ para profissionais de tecnologia

Thiago Lima, fundador da LinkApi está de casa nova. Depois de completar sua saída da Semantix com a aquisição feita no fim de 2020, ele montou uma nova companhia, a edtech Kadabra.
Nascido em uma família de professores – a mãe chegou a dar aula de português para ele no ensino fundamental – e com uma formação técnica, Thiago quer ajudar os profissionais da área de tecnologia a se manterem preparados para o mercado de trabalho.
Mais do que um programa de treinamento e formação como Trybe, Alura ou a Gama Academy, a proposta é ser uma ferramenta de aprendizado para quem já atua no setor. “O mercado está muito pensado em levar pessoas do 0 para o júnior. Mas ninguém pensa no contínuo. Os profissionais entram nas empresas e crescem por novas propostas de empregos que recebem de outras companhias, sem necessariamente melhorar tecnicamente. A Kadabra quer ser um sistema de ensino, o protocolo de mercado para entender qual o nível real dessa pessoa”, conta Thiago ao Startups.
A proposta é que a plataforma baseada em inteligência artificial configure as trilhas de aprendizado para o profissional atreladas ao seu plano de carreira – de júnior para pleno, de pleno para sênior, por exemplo – envolvendo capacitações técnicas, mas principalmente habilidades interpessoais (as famosas soft skills). De acordo com Thiago, essas habilidades têm mais “tempo de prateleira” do que os conhecimentos técnicos, podendo durar de 3 a 5 anos, contra 6 meses das hard skills. A grande referência, segundo ele, é o que a Afya faz no mundo da medicina.
Enquanto as habilidades interpessoais serão trabalhadas pela própria Kadabra, a parte mais tecnológica será incluída na formação por meio de parcerias com outras edtechs.
O modelo de negócios é um SaaS com pagamento por número de funcionários que dá acesso aos conteúdos, aulas ao vivo e o monitoramento do desempenho pelo algoritmo. O histórico do profissional poderá ser acessado por todas as empresas pelas quais ele ou ela passar, permitindo o acompanhamento da sua evolução. “Temos quase um LinkedIn da pessoa. E conseguimos rastrear o que acontece depois que ela aprende”, diz Thiago.
Ele conta que uma pesquisa feita para validar a teses da Kadabra indicou que 80% do turn over na área de tecnologia acontece pelo fato de os profissionais não sentirem progresso, ou simplesmente não enxergarem possibilidades de progresso na empresa onde estão. Por isso a proposta faz sentido.
A ideia do negócio surgiu de um grupo de mentorias individuais com CTOs que Thiago tem há uns 4 anos. A demanda era que ele fizesse algo coletivo. Junto com um amigo que trabalha com lançamento de produtos digitais, ele resolveu experimentar o formato. Foram 1,2 mil inscritos, sendo que 32 pessoas fizeram efetivamente o curso, pagando na faixa de R$ 5 mil cada.
Ele conta que a mentoria, de 4 aulas, teve 3 abordando modelo de negócios, desenvolvimento de talentos, de processos e só uma sobre tecnologia – mais especificamente, tecnologias emergentes como inteligência artificial, big data e blockchain. A validação surtiu o efeito esperado. “todo mundo queria contratar o método”, diz.
Segundo o fundador, o sistema está em uso por 7 clientes piloto – uma grande instituição de ensino interessada no algoritmo, uma empresa tradicional e algumas empresas do mundo de SaaS.
O mercado de tecnologia vem em um ritmo forte de contratações e uma consequente inflação de salários turbinada pelo fluxo de investimento nas startups nos últimos anos. Com o atual momento de correção e a expectativa de mais racionalidade nos cheques dos investidores e nos orçamentos dos negócios, espera-se que haja um arrefecimento na competição.
De acordo com Thiago esse movimento não afeta a Kadabra porque ela não atua na ponta da empregabilidade, preparando quem quer entrar no mercado. “A inflação dos salários dos devs se regulariza, mas isso não impacta o nosso modelo”, diz.
Em meio ao momento de redefinições no mercado de VC, Thiago diz que está tranquilo com relação ao financiamento de sua nova empreitada.
Ele diz que a apresentação do negócio a possíveis investidores já foi feita, apesar de não haver intenção de fazer uma captação por enquanto. “Não nascemos para ser uma empresa que levanta rodadas sucessivas de capital. Temos o capital próprio da minha saída da LinkApi e a tese é gerar caixa. Se for para captar, é para uma coisa muito específica”, diz.
Jornalista com mais de 15 anos de experiência acompanhando os mundos da tecnologia e da inovação, com passagens pelo DCI, Sebrae-SP, IT Mídia e Valor Econômico. Fundador e Editor-Chefe do Startups.com.br.