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No começo do ano, a Casai, startup mexicana de hospedagens de curta duração, anunciou sua saída do Brasil, encerrando suas atividades poucos meses após ter assumido o controle da marca brasileira Nomah, que era da Loft. Entretanto, esse foi apenas o sintoma de algo maior: sem muito alarde, a badalada startup anunciou o fim de sua existência.

A informação foi trazida ao público na última semana pelo site mexicano Contxto. Segundo apurou o portal, a Casai, que já enfrentava problemas de caixa desde 2022, não resistiu à seca do mercado de venture capital. Para não afundar, a empresa tentou de tudo, como cortes no seu quadro de funcionários, uma mal sucedida fusão com a brasileira Nomah, até fechar no Brasil para se segurar no México. No final, nada deu certo.

Segundo levantou o portal junto a ex-funcionários, o destino infeliz da Casai se deu por várias razões, de falta de controle sobre o dinheiro no caixa, passando por pouca governança nas operações, até a ineficácia em ajustar seu modelo de negócio para sobreviver no negócio. Em vez de se ajustar à nova realidade do mercado, ela optou por fusões e aquisições para tentar crescer “na marra”.

De acordo com relatos de ex-colaboradores, desde a sua primeira rodada em 2019, a empresa queimou dinheiro e geriu mal seu crescimento, inclusive com irregularidades em contratações de funcionários e na regulamentação de imóveis, que eram alugados sem as licenças adequadas. Muitas despesas eram pagas em dinheiro vivo, tornando difícil a gestão financeira na proptech.

“Houve uma questão de má gestão e caos interno”, revelou uma fonte à Contxto, acrescentando que também houve “má gestão dos orçamentos para a decoração dos apartamentos”. E não para por aí: segundo o executivo, que não quis se identificar, um dos fundadores (Nico Barawid), usou recursos das rodadas de VC para despesas pessoais, assim como festas luxuosas para comemorar “milestones” da companhia.

Só para dar um contexto, de dinheiro, a Casai levantou uma quantia de respeito, conquistando investidores de peso: a lista vai de fundos como a16z, monashees e Kazsek até empresários como Roger Laughlin, cofundador de outro gigante mexicano, a Kavak. Na época dos cheques generosos, o ambição da proptech era alta: queria ser o primeiro unicórnio mexicano do setor de hospitalidade.

A rodada que não saiu

A derrocada da Casai começou a partir de sua busca por uma série B. Depois de assegurar no final de 2020 uma série A de US$ 48 milhões liderada pela a16z, em 2021 a empresa mirou mais alto, sentando à mesa com fundos para levantar mais US$ 70 milhões.

Segundo apurou o site mexicano, executivos da Casai trocaram mensagens dizendo que a série B era a “prioridade número 1” da companhia, que já estava em meio de sua estratégia inorgânica de crescimento, inclusive comprando empresas para acelerar a operação brasileira. Foram compradas as startups Q Apartments, Roomin e Loopkey, em uma tentativa de dobrar de operação em poucos meses e jogar os números para cima.

Vendo a torneira secar, em abril de 2022 a proptech tentou outro esforço para reforçar o caixa, por meio de uma extensão da série A, mas investidores declinaram, dado o histórico de gastos recente da startup.

Aliás, para tentar dar um “up” na sua imagem no país, ela chegou a vender a imagem de que tudo estava bem, inclusive divulgando metas de crescimento para 2022 aqui em uma matéria do Startups, e afirmando que cresceu 85% no primeiro trimestre do ano passado. A gente acreditou.

Entretanto, nos bastidores, a história era outra. Com a grana cada vez mais curta, em pouco tempo veio o inevitável: em julho de 2022, a proptech demitiu dezenas de funcionários: 60 no Brasil e 20 no México. De acordo com os afetados, os pacotes de indenização em ambos os países foram considerados ilegais.

No México, os advogados da Casai pediram aos funcionários que pedissem demissão, oferecendo 50% da indenização legalmente exigida, mas adiaram para seis meses, condicionada à “receita projetada de aluguel”, segundo documentos apresentados por ex-funcionários.

Fim da linha

Em meio a uma série de tentativas para salvar a operação, em agosto do ano passado a Casai se fundiu com a brasileira Nomah, marca que antes fazia parte da Loft. O plano era que ambas as marcas se fortalecessem a partir da fusão, mas elas continuaram a sangrar dinheiro, já que a demanda por apartamentos não aumentou.

O M&A chegou inclusive a receber fundos adicionais dos fundos que já estavam no barco da Casai e da Loft, como a16z e monashees, mas a falta de tração nos negócios chegou ao final já conhecido: no começo de 2023, a Casai deixou o Brasil, e a Nomah deixou de existir, deixando o mercado de estadias curtas de luxo para nomes como Tabas.

O fim oficial chegou há poucas semanas na página oficial da companhia, colocando um fim na história da proptech que queria ser o primeiro unicórnio do setor de hospitalidade no México:

“Após 4 anos construindo novos modelos de hospitalidade no México e no Brasil, é hora de nos despedirmos. Estamos muito honrados em receber mais de 110 mil de vocês em nossos apartamentos na Cidade do México, Tulum, Cabo, São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis. Transferimos todos os nossos apartamentos de 2k para algumas operadoras locais incríveis no México e no Brasil que continuarão a oferecer experiências incríveis nessas cidades”, afirmou a Casai.

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