Em maio de 2021, Marco Stefanini anunciou que lançaria um fundo de venture capital. À época, o empresário da multinacional brasileira de tecnologia revelou que criaria um veículo de R$ 300 milhões, que atuaria separadamente da empresa que leva seu sobrenome.
A decisão foi informada por alguns fatores. Primeiro, o empresário começou a ser procurado por clientes interessados em um fundo que repetisse os resultados positivos de sua multinacional de tecnologia. Este mês, a Stefanini reportou seus resultados anuais: impulsionada por demandas de transformação digital, a companhia teve um faturamento de R$5 bilhões em 2021, e um crescimento de 20% no Brasil em sua melhor performance na última década.
Além disso, um fundo daria vazão à demanda de startups se oferecendo como possíveis candidatas para aquisição – a equipe de M&A da empresa diz receber cerca de 40 oportunidades para analisar por mês. Porém, o executivo por trás de um dos principais cases do setor de tecnologia no Brasil diz que o veículo – que tinha seu lançamento previsto para o ano passado – ainda não teve o pontapé inicial, por um bom motivo.
“Tivemos um excelente ano e acabei dedicando mais tempo para a Stefanini do que para o fundo”, diz Marco Stefanini, em entrevista ao Startups. “Além disso, estamos avaliando várias alternativas, inclusive de sócio. Consideramos inicialmente fazer isso sozinhos e [avaliar sócios] é um processo mais demorado.”
O valor a ser captado permanece o mesmo, segundo Stefanini, que diz estar “com um bom problema” em mãos. “Estamos com muitas opções e isso também atrasou nossa definição. Hoje temos muitos interessados, mas também não saímos para vender [o fundo] no mercado ainda. Obviamente, não vou sair ofertando enquanto não estiver estruturado”, pontua.
Por outro lado, ainda há uma expectativa de que o fundo será lançado até o meio deste ano, segundo o CEO. “Tem que sair, senão vai atrasar demais”, ressalta.
Diferencial de mercado
Por enquanto, Marco diz estar focado na tese do fundo, mas que a estratégia final será definida a quatro mãos com o único sócio coinvestidor, que poderá ser outro fundo ou family office, mas que ainda precisa ser escolhido. “A tese tem a ver com a afinidade [do investidor], lembrando que nosso modelo é sempre ligado ao digital”, ressalta o executivo. Se por um lado, o fundo deve ser generalista com foco em transformação digital, Stefanini diz que ter uma varejista como sócia “faria muito sentido.”
Em seu desenho atual, o fundo que Marco quer lançar deve investir cheques de R$10 milhões em média, sem ultrapassar o teto de R$20 milhões. A ideia é investir inicialmente em cerca de 10 empresas, e reservar uma parte do fundo para follow-ons. Segundo o CEO, o veículo terá uma abordagem diferente da Stefanini Ventures, braço de sua empresa de tecnologia que adquire participações majoritárias em startups. A companhia diz que a receita da divisão aumentou em mais de seis vezes e o EBITDA em 15 vezes, entre 2016 e 2021.
“Seremos o típico fundo que terá participações entre 15% e 30%, no máximo. Não é um share muito pequeno, e como temos essa pegada do smart money, envolve uma dedicação de tempo significativa. Então prefiro ter uma participação que valha a pena, considerando essa dedicação”, ressalta. O foco será startups de tecnologia operando sob os modelos B2B e B2B2C, ou ativos que possam ser digitalizados.
Uma constatação que o empresário já havia tido quando anunciou o fundo e que continua verdadeira diz respeito a demonstrar um diferencial em relação a competição. “Todo mundo tem um fundo, então o nível de concorrência vai ser grande, e percebemos que temos que nos posicionar de uma forma diferente. Diferente de outros fundos, temos a característica de conhecer o assunto [digital]”, diz Marco.
“Além disso, seremos um fundo que vai trabalhar com as empresas, aportando smart money, que é um diferencial para os investidores, pois agrega mais valor. Ou seja, a gente não só participa do conselho ou faz aportes financeiros, mas sim participa no processo de fazer essa empresa crescer mais”, pontua.
Por outro lado, a concorrência não assusta o veterano do setor de tecnologia. “Acho que o oceano vai ficar mais vermelho e a chance de trazer sucesso para investidores passa a ser menor, e por isso temos um posicionamento [sobre trazer um diferencial]. Por outro lado, ao mesmo tempo que há muita competição, há também um grande mercado,” pontua.
Sinergias com investidores
Segundo Stefanini, a ideia no momento é avançar as conversas com investidores nacionais, mas o executivo não descarta a possibilidade de dialogar com fundos e organizações de fora do Brasil – a empresa tem uma ampla presença internacional, com escritórios em 41 países. “O boca a boca às vezes avança. Um investidor de fora não é o foco no momento, mas se alguém surgir, melhor.”
Investidores com os quais Stefanini tem discutido uma possível sociedade para o novo fundo são empresários de outros setores, que veem em tecnologia um segmento em pleno crescimento e buscam diversificação.
“Sou empresário como eles e temos uma sinergia neste sentido, mas tenho um track record em tecnologia, e no momento há um boom, com muitos fundos ótimos e outros nem tanto,”, ressalta o executivo. “Ter um fundo gerido por um empresário que sabe das dificuldades [do setor], mas consegue aterrissar e construir empresas faz a diferença e é o que dá uma segurança maior por parte do investidor.”
Estar ainda trabalhando na tese e na atração de investidores quase um ano após ter anunciado o fundo não é algo que preocupa o CEO. “As negociações são sempre lentas: muitas vezes fecho negócios em que as conversas começaram há seis, oito meses atrás. E [o fundo] não tem nenhum link com a Stefanini, que não precisa desse investimento. Não estamos em nenhuma sangria desatada: preferimos, às vezes, atrasar um pouco e fazer direito,” conclui.