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Você já deve ter visto, inclusive aqui no Startups, sobre as mudanças regulatórias que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está trazendo ao mercado de crowdfunding para startups, por meio da Resolução 88. Pois então: ela entrou em vigor nesta sexta-feira (01), e pode trazer impactos significativos para o mercado.

Entre as mudanças previstas estão o aumento do teto das captações por rodada, saltando de R$ 5 milhões para até R$ 15 milhões, e a possibilidade de criação de um mercado subsequente às ofertas públicas, em que investidores podem comprar ou vender participações de rodadas já realizadas.

“Esta mudança na regulamentação vai fazer pelo mercado algo ainda maior do que a primeira instrução de 2017”, avalia Paulo Deitos, sócio e cofundador da CapTable, comparando a CVM 88 com a CVM 588, primeira medida que regulou e reconheceu as plataformas de equity crowdfunding no Brasil.

Segundo o executivo, o mercado vive um momento bem mais maduro, e as mudanças trazidas pela nova regulamentação endereçam esse novo momento. “Teremos negócios ainda mais robustos e maior liquidez, e isso vai mudar o jogo”, destaca.

Na visão da CEO e cofundadora do Kria, Camila Nasser, o mercado agora se depara novamente com uma oportunidade multiplicadora. Em 2021 as plataformas de equity crowdfunding no Brasil levantaram cerca de R$ 188 milhões em investimentos, um crescimento de 22 vezes desde 2017.

Mesmo mantendo uma previsão conservadora, Camila aponta que as possibilidades ficaram ainda maiores com a nova regulamentação. “Se crescermos seis vezes nos próximos três anos, já chegamos no bilhão (em investimentos)”, destaca.

Para o sócio e diretor de negócios da EqSeed, Igor Monteiro, além das possbilidades de crescimento, a mudança chega também como uma nova chancela da CVM para o equity crowdfunding no país. “Estamos construindo algo verdadeiramente transformador no mercado de investimentos e projetos maiores e ambiciosos vêm pela frente”, pontua.

Liquidez para os investidores

Para Paulo Deitos, da CapTable, a possibilidade de poder negociar as cotas de participação vai abrir as plataformas para mais perfis de investidor, tanto os de longo prazo quanto os de oportunidade. “A maior liquidez vai abrir o mercado para mais pessoas, já que tem a possibilidade de vender com agilidade caso ele ache necessário”, explica.

Para a CEO do Kria, isso também ajuda a tirar um peso das costas do empreendedor. “Os fundadores agora podem empreender sem lidar tanto com a pressão de um exit”, explica Camila Nasser. Antes da nova regulamentação, os investidores tinham que esperar um exit por parte da plataforma para que todos pudessem resgatar seu dinheiro.

Camila Nasser, CEO do Kria

Para Deitos, ainda resta saber como os investidores vão se comportar nesta nova realidade, observando se este “marketplace” de cotas poderá gerar volatilidade. “É algo pra ver como o mercado vai reagir, mas não tem como, nem devemos controlar”, analisa, apontando que as plataformas também devem assumir um papel educacional para novos investidores.

Camila é mais otimista quanto à resposta do público investidor. “Eles sabem que não estão investindo só no papel e sim no projeto. Acredito que o mercado subsequente vai trazer uma liquidez muito importante para impulsionar as ofertas no primário”, completa.

Mais e maiores rodadas?

A CVM 88 não prevê apenas rodadas maiores, mas também aumentou a faixa de faturamento para as startups que desejam buscar financiamento. Agora startups com até R$ 40 milhões em receita anual podem recorrer às plataformas.

Segundo Camila Nasser, até em função do momento atual do mercado, as rodadas devem girar dos R$ 5 milhões a R$ 10 milhões, com poucas pedindo o valor máximo permitido (R$ 15 milhões). Porém, o fluxo de ofertas deve intensificar. “Já estamos trabalhando com bastante empresas com faturamento acima dos R$ 10 milhões (de faturamento anual)”, revela a CEO.

“Não mudou o número de startups dentro dos R$ 5 milhões (em captação), mas aumentou bastante os que buscam mais”, destacou Paulo Deitos, afirmando que a CapTable chegou a investir na expansão de seu time de dealflow para acompanhar as mudanças que podem vir nos próximos meses. “Já abrimos 12 deals este ano. Até o final do ano esperamos fazer até 18, com pelo menos 3 acima dos R$ 5 milhões”, afirma.

Paulo Deitos, cofundador da CapTable

Para Igor Monteiro, da EqSeed, a evolução nos portes das rodadas virá paulatinamente. “Observamos isso quando a CVM publicou a regulamentação antiga com teto de R$ 5 milhões. As plataformas levaram alguns anos até realizarem ofertas no limite permitido. Obviamente, tendo em vista uma maior maturidade do setor, bem como a flexibilização da divulgação, rodadas próximas ao novo limite de R$ 15 milhões devem acontecer mais rapidamente”, avalia.

Mais exposição para as plataformas

Outra mudança trazida pela CVM 88 diz respeito à divulgação das ofertas pelas plataformas. Agora é permitido fazer campanhas de divulgação sobre as ofertas das startups, seja em canais digitais ou em parceiros estratégicos.

Em sintonia com o momento, a EqSeed chegou a contratar um novo CMO, o ex-XP Maurício Souza para impulsionar seus planos de crescimento. Para o Igor Monteiro, apesar de esse não ser um dos únicos motivos, é um fator impactante sim. “A nova regulamentação nos dará mais ferramentas de divulgação das ofertas e, com isso, é fundamental termos um profissional experiente como o Maurício”.

Conforme aponta Camila Nasser, do Kria, além das possibilidades de marketing, a empresa já está buscando novos modelos de expandir sua visibilidade, inclusive criando parcerias de distribuição com corretoras. “Algo que nos anima é a oportunidade de plugar (a plataforma) a corretoras de investimentos, bancos. O marketplace será um catalisador disso”, destaca.

Momento e mercado

Em meio a notícias de um “inverno do venture capital”, os representantes das plataformas de crowdfunding não se mostram preocupados. Segundo eles, por lidarem com investimentos de estágio mais inicial, o mercado deve se manter aquecido.

Segundo o cofundador da CapTable, a expectativa é que as plataformas aumentem seu poder de fogo para competir com fundos early stage, e mais fundadores busquem nelas o seu financiamento. “Já éramos uma plataforma de maior procura justamente pela rapidez de ir ao mercado e levantar capital. Num fundo, startups levam em média oito meses. Nós conseguimos em 45 dias”, dispara Paulo Deitos.

Para Camila Nasser, a mudança regulatória vai reforçar um movimento que já se fortalece nos últimos anos: de mais startups deixarem de olhar só para o caminho dos VCs para observar “carinhosamente” as plataformas. “Acabou o mito de que empresas que buscam equity crowdfunding eram somente as que não conseguiam (aportes) com VC”, provoca a CEO, falando sobre como o Kria quer competir com os fundos. “É só mostrar o nosso track record”, finaliza.

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