“Hoje, o desafio não é equilibrar a quantidade total homens e mulheres na empresa, e sim aumentar a presença feminina na liderança.” A frase é de Priscila Siqueira, vice-presidente e head do Gympass no Brasil, durante o Women Empowerment Day, evento anual organizado pela SAS, empresa global especializada em analytics e business intelligence.
Fundada em 2012, o unicórnio brasileiro com sede em Nova York oferece planos corporativos mensais com foco em qualidade de vida e bem-estar que dão acesso a academias, estúdios e aulas ao vivo. Segundo Priscila, a companhia tem feito esforços intencionais de contratação para aumentar a diversidade nos níveis sêniores.
“Já houve casos em que a vaga era para um setor majoritariamente masculino, então entrevistei apenas mulheres”, diz a executiva, acrescentando que o Gympass está trabalhando para montar um time mais diverso. “Todas as posições que abrem, se for uma área com poucas mulheres, vamos buscar predominantemente talentos femininos”, completa.
Ao serem contratadas, elas contam com o apoio de um grupo de afinidade formado por outras colaboradoras e recebem mentorias para se desenvolver pessoal e profissionalmente. “Dar oportunidade para outras mulheres e oferecer as mentorias é muito importante, e é assim que estamos praticando a sororidade”, diz Priscila.
Além da head do Gympass, o painel do Women Empowerment Day recebeu Andrea Ribeiro, diretora de operações da Tokio Marine Seguradora, Juliana Ferris, superintendente de produtos e serviços na estatal Dataprev, e Andreia Limão, gerente executiva da Elo, com mediação da editora-executiva do Startups, Angelica Mari.
“O homem pode saber muito menos do que as mulheres, mas ele é muito mais confiante. Não acho que a gente precise se gabar [dos conhecimentos e conquistas], mas ter a autoconfiança para passar segurança ao time”, diz a representante da Elo.
Refletindo sobre essa questão, Priscila observa que autoestima é resultado da educação desde a infância. “Quando éramos mais novas, muitas mulheres tinham que se comportar como princesinhas, e os homens estavam mais livres”, afirma. Nesse sentido, ela considera as mentorias e a união com outras mulheres da empresa como peça-chave para fortalecer a atuação das profissionais.
Interseccionalidade também importa
Apesar de ver avanços na presença feminina no ambiente corporativo, Priscila reconhece que a inclusão de talentos com outros marcadores de diferença, como pessoas negras, pessoas LGBTQIA+ e com deficiência também é essencial. Em um primeiro momento, o Gympass está trabalhando com os 2 primeiros grupos.
“Se não tem ninguém no time representando esses grupos, pensar [nas dores e necessidades] daquela comunidade é muito mais difícil”, afirma a executiva. A startup, diz Priscila, está indo para a 2ª turma de trainees exclusiva para pessoas negras. “Quando a gente analisa o S do ESG [que se refere ao pilar social], falamos de diversidade, trabalho digno e qualidade de vida. É ele que impulsiona as empresas a olharem para além do resultado financeiro.”
Foco nos diferenciais
Com passagem pela Oracle, multinacional norte-americana especializada no desenvolvimento e comercialização de hardware e softwares e de banco de dados, e mais de 20 anos de experiência em tecnologia e inovação, Priscila observa que inclusão feminina é ainda menor dentro das startups, principalmente em negócios de tecnologia.
“O que me chama a atenção é que muitas vezes a presença feminina na base das empresas é muito maior do que a masculina. O desafio está no topo da pirâmide”, diz a executiva. “as mulheres não deveriam ficar provando [seus conhecimentos e habilidades] para os homens, e sim mostrar o que nós trazemos de diferente deles no ambiente corporativo.”
Ela destaca a capacidade de olhar para além dos números e dos aspectos racionais da empresa. “Não significa que eu não tenho o lado racional. Mas o que prevalece é a capacidade de liderar, ter mais empatia e enxergar outros pontos do negócio”, explica. Como líder de uma empresa global – o Gympass está disponível em mais de 10 países, incluindo Estados Unidos, Espanha, Itália e Alemanha – a executiva ressalta a tendência people-oriented do mercado, abordagem na qual os negócios estão centrados nas pessoas e são movidos pela relação mais humana com o time e os clientes.