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O jogo virou. E depois virou de novo. A verdade é que no mercado de startups tudo é muito dinâmico e o ecossistema global vem passando por grandes mudanças refletidas no tamanho dos cheques, disponibilidade de capital e apetite dos investidores. 

Se você acompanha o Startups há algum tempo, já deve conhecer o Pitch Reverso, nosso evento criado para inverter a lógica dos pitches tradicionais. A ideia surgiu após os resultados históricos de 2021 para o mercado de venture capital. Se antes eram os fundos que tinham a faca e o queijo na mão na hora de negociar uma rodada, com a maior disponibilidade de capital fundadores e startups ganharam poder nas mesas de conversa. Colocamos, então, os donos do dinheiro para vender seus peixes: no Pitch Reverso, são os fundos que se apresentam para mostrar suas teses e formas de atuação às startups.

Quase 10 meses depois, o cenário já é bem diferente. Depois de um ano recorde em volume e número de investimentos, a economia agora tem mais incertezas, a aversão ao risco aumentou e as torneiras de dinheiro farto se fecharam. Os fundos voltaram a ter mais poder de negociação, estão mais criteriosos e as startups precisam se adaptar. Mas nem por isso o Pitch Reverso deixa de ser relevante: mais do que nunca, os dois lados precisam conversar, se entender e se adequar ao novo momento.

E a 4ª edição aconteceu ontem (30), com apoio da Amazon Web Services (AWS) e do Learning Village, hub de inovação e educação fundado pela HSM e a SingularityU. O evento contou com as apresentações de Ânima Ventures, Anjos do Brasil, Latitud, Norte Ventures, SaaSholic e a Deloitte, que acaba de lançar o seu fundo de corporate venture capital Deloitte Ventures. Cada um teve apenas 7 minutos para convencer fundadores de que é o melhor parceiro para quem quer criar uma companhia de sucesso.

“Cada vez mais o CVC tem se tornado estratégico, com uma visão não só de trazer retorno financeiro, mas também sobre o quanto um player pode alavancar o outro e impactar estrategicamente as decisões e o negócio”, afirmou Reynaldo Gama, presidente da plataforma de educação corporativa HSM e gestor do Ânima Ventures. O veículo tem R$ 150 milhões para apoiar companhias com cheques de US$ 250 mil a US$ 1 milhão por fatias de até 30%.

Reynaldo Gama, presidente da plataforma de educação corporativa HSM e gestor do Ânima Ventures. (Foto: Startups)

O maior desafio, segundo Reynaldo, é garantir que a startup não se torne refém da corporação, uma espécie de fornecedor para atender às demandas da grande empresa. “Usamos pessoas do ecossistema para acelerar a startup e trazê-la para a Ânima não como um fornecedor, mas como investida. Temos interesse em acelerar isso, incluindo fazer roadshows em todas as capitais onde atuamos, pois isso será bom para nossos clientes e para as startups. Quanto mais visibilidade elas tiverem, melhor para testar soluções, gerar caixa e ganhar clientes. É uma via de mão dupla que se retroalimenta”, pontuou.

Para Rafael Siciliani, consultor da Deloitte Ventures, o potencial do veículo em relação aos outros fundos do mercado é se relacionar com o mercado de venture capital e ainda trazer a validação da marca – ou seja, o peso de uma startup ser parceira de uma empresa reconhecida no mercado. “Ao se relacionar com a Deloitte, você ganha um apoio global e o entendimento da dor do cliente in loco“, explica.

A decisão de lançar o CVC passa pela busca por mais agilidade na entrega dos produtos. “Em uma empresa como a Deloitte, a inovação é muito mais lenta e difícil. Trazer quem está tocando essa demanda no dia a dia faz com que seja muito mais rápido e efetivo solucionar os problemas.” Além do Brasil, a Deloitte Ventures está presente no Canadá, Reino Unido, Alemanha e Austrália.

Rafael Siciliani, consultor da Deloitte Ventures, no Pitch Reverso
Rafael Siciliani, consultor Deloitte Ventures. (Foto: Startups)

Percepção dos investidores

Não deu para ignorar que o mercado esfriou, embora ainda tenha dinheiro disponível para “bons projetos”. “Não se investe em uma empresa que não tem potencial de gerar retorno. Bons projetos são aqueles com atratividade para o fundo, que atuam em um mercado com problemas o suficiente para construir uma companhia grande que consiga solucioná-los”, disse William Cordeiro, managing partner da SaaSholic.

Com foco em startups Software as a Service, a SaaSholic também quer ajudar os empreendedores com seu know-how. “Não entro em uma rodada onde não tenho conhecimento ou nada para entregar além do dinheiro. A gente busca levar o conhecimento tático de SaaS para ajudar a empresa com os desafios do começo da sua jornada”, pontuou.

Acompanhando as tendências do mercado, a Anjos do Brasil diminuiu o número de cheques assinados no ano. Enquanto adicionou 30 investidas ao portfólio no ano passado, o primeiro grupo de investidores-anjo do país fechou 17 investimentos em 2022. Não que a demanda das startups tenha diminuído. A Anjos do Brasil segue recebendo muitas – se não, ainda mais – companhias em busca de capital.

“Temos seguido o processo normal, com encontros mensais com os investidores e, às vezes, estendendo o prazo para que eles avaliem melhor as propostas. As empresas continuam nos procurando, é o outro lado da mesa que está mais desaquecido, mas é momento [do mercado]”, diz Gabriela Gorski, analista de empreendedorismo na Anjos do Brasil. Como dica para quem está tentando levantar uma rodada, ela sugere organizar a casa com antecedência, ou seja, antes de precisar levantar o dinheiro.

Jose Pedro Cacheado, sócio da Norte Ventures, ressaltou que a crise não afetou apenas negócios em estágio inicial. “Os valuations de empresas de tecnologia públicas e privadas caíram muito, a taxa de juros subiu em vários países e o capital ficou mais caro. Querendo ou não, essas companhias geram retorno de capital em um período longo, e os investidores estão procurando um retorno mais rápido”, analisou.

Se antes eles olhavam mais para métricas de crescimento, agora o foco está nos índices financeiros e operacionais mais tradicionais, além dos valuations pé no chão. “A expectativa é que isso continue assim no próximo ano, o que não quer dizer que os investimentos vão acabar. Os principais fundos do país grana para investir, mas agora todos estão mais diligentes”, acrescentou.

Na Latitud Ventures, uma das principais estratégias é prover o capital sendo o primeiro cheque dos empreendedores. Com um time enxuto de 3 investidores, a companhia tem um Rolling Fund faz cheques médios de US$ 100 mil nos estágios pré-seed e seed. De acordo com Naiane Pontes, investidora da Latitud, a empresa está em um momento de captação e estruturação de um fundo institucional.

A Latitud Ventures tem em seu portfólio Pomelo, BHub, Alinea Health, Stark Bank, entre outros. Em menos de 2 anos de existência, o fundo investiu em mais de 100 startups na América Latina, com maior participação do Brasil (38%). Embora se considere agnóstico, o veículo tem um olhar especial para marketplaces B2B. “Acreditamos muito nessa tese de verticalização, além da fintechzação de marketplaces e infraestrutura para fintechs. Sempre de forma muito sóbria, entendendo quais problemas atuais devem ser resolvidos ao invés de um problemas que talvez surja daqui a 10 anos”, explicou Naiane.

Confira a 4ª edição do Pitch Reverso na íntegra:

https://www.youtube.com/watch?v=Kfmy6CjIDjQ

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