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No mercado há 14 anos no cenário do Vale do Silício, a Carta conquistou notoriedade em meio a empresários da região com sua solução para gerir os cap tables de suas organizações, e o plano de construir um ecossistema privado (ou mercado secundário, se preferir) de negociação de participações neste negócios, chamado CartaX. Entretanto, uma denúncia de um founder abalou a confiança na companhia, que foi acusada de uso indevido das informações contidas na plataforma.

Na sexta passada (08), o CEO finlandês, Karri Saarinen, postou em sua conta no LinkedIn que havia recebido notícias surpreendentes sobre a Linear, a empresa de software de gerenciamento de projetos que ele cofundou há quatro anos e que levantou US$ 35 milhões recentemente.

A Linear é cliente da Carta e, segundo Saarinen, na sexta-feira, um representante da Carta entrou em contato com um investidor anjo da Linear dizendo ao indivíduo que a Carta tinha uma “ordem de compra firme” de uma parte interessada a um preço específico. O representante ainda foi mais longe, afirmando que o comprador estava disposto a “flexibilizar mais”.

O detalhe, contudo, é que ninguém da Linear estava sequer interessado em negociar participações do negócio. Além disso, o investidor-anjo contatado é parente de Karri – ou seja, ele o o alertou imediatamente sobre o contato por e-mail. Sentindo-se traído pela Carta, o CEO da Linear “colocou a boca no trombone”.

“Este pode ser o fim da Carta como plataforma confiável para startups”, escreveu ele. “Como fundador, parece uma droga que a Carta, em quem confio para gerenciar nossa tabela de capitalização, esteja agora fazendo uma divulgação fria aos nossos investidores anjos sobre a venda de ações da Linear para seus compradores não divulgados.”

O empresário finlandês falou mais: “Eles nunca nos contataram sobre o início de uma carteira de pedidos de ações da Linear. O investidor que procuraram é um membro da família cujo investimento nunca publicamos em lugar nenhum. Nós e eles nunca optamos por qualquer tipo de venda secundária. Mesmo assim, a Carta Liquidity encontrou seu e-mail e sabia que possuía ações da Linear”.

O infame email do representante da Carta (em inglês). Crédito: reprodução
O infame email do representante da Carta (em inglês). Crédito: reprodução

Resposta da Carta

Em meio à onda de má publicidade, o CEO da Carta, Henry Ward, também foi às redes sociais. Primeiramente, ele pediu desculpas, afirmando que a companhia está investigando o caso e que a situação foi uma violação de procedimentos internos da startup.

Entretanto, as denúncias de Karri, cujo post passou dos mil comentários, foram o estopim para uma reação massiva de outros founders clientes da plataforma, que passaram a questionar a segurança de seus dados no sistema da Carta. Outros dois incidentes da mesma natureza também foram reportados no rastro da denúncia da startup finlandesa.

Para completar, em um post adicional em seu perfil no X, ele disse que ouviu de outros founders outros casos de investidores ou funcionários de empresas privadas que foram contatados por funcionários da Carta para colocarem suas ações à venda. “Essas pessoas não aceitaram isso e as empresas não aprovaram essas vendas”, explicou o CEO da Linear.

Além disso, Karri afirmou que chegou a conversar com Henry Ward no fim de semana, e que as explicações do CEO da Carta não o fizeram mudar de opinião quanto à confiança na plataforma. “Aprendi alguns fatos sobre o que aconteceu, mas depois de conversar com ele e ouvir outros fundadores, nada realmente mudou minha posição aqui”, completou Karri em sua conta do X.

Aí a coisa fica boa: depois deste post, Henry Ward apelou para uma boa e velha lavação de roupa suja em público, afirmando que na conversa privada que tiveram, Karri admitiu ter reagido de forma exagerada ao falar sobre uma possível “queda” da Carta, sendo que a Linear é cliente da companhia já mais de dez anos.

“Apesar de ficar tão chateado com nosso e-mail errado que você está pedindo o fim da Carta, eliminando 2 mil empregos e afetando 40 mil clientes, você não pediu para cancelar seu contrato com a Carta. Parece que você ainda está planejando ficar conosco apesar de toda a crítica pública? Eu não entendo? Isso foi apenas para nos bombardear para sua exposição pessoal no Twitter e no LinkedIn?”, disparou Henry.

A resposta do CEO da Carta pegou mal com diversos founders. “Também sou cliente de longa data e não entendo sua postura aqui. Você tem um cliente com acusações credíveis e nenhum incentivo para prejudicar a Carta e continua a responder criticando-o”, afirmou o CEO da CuraiHQ, Neal Khosla, em resposta à publicação no X.

Para a Carta, a queimação de filme é mais uma em uma sequência de notícias pouco lisonjeiras. Em 2023, a empresa processou seu ex-CTO por “atividades ilegais” e por trair a companhia. Em 2020, o ex-vice-presidente de marketing da empresa processou a Carta, acusando a empresa de discriminação de gênero, retaliação, demissão injusta e de violação da Lei de Igualdade Salarial da Califórnia. Em outubro, Henry Ward chegou a enviar e-mail aos clientes, endereçando possíveis preocupações com a “imprensa negativa” da marca.

É, pelo jeito a repercussão negativa não parou por aí, e quem agradece é a concorrência, composta por startups como AngelList e Pulley, e aqui mesmo no Brasil, com a fintech Basement e a Distu.

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