Desde a semana passada, o Web Summit ficou no olho do furacão em função de algumas falas de seu fundador e CEO Paddy Cosgrave, que resolveu opinar em suas redes sociais sobre o conflito Israel-Hamas, criticando a postura israelense na situação. Entretanto, no fim de semana, depois de inúmeras críticas e boicote de empresários, fundos e grandes empresas ao evento, Paddy resolveu deixar o cargo de líder do evento.
“Demito-me de CEO da Web Summit com efeitos imediatos”, afirmou Paddy Cosgrave em nota enviada à imprensa. “Infelizmente, os meus comentários pessoais tornaram-se uma distração para o evento e para a nossa equipa, os nossos patrocinadores, as nossas startups e as pessoas que o frequentam”, destacou.
Apesar de já ter enviado um pedido de desculpas na última terça-feira (17), a onda de repúdio aos seus comentários não arrefeceu ao longo da semana, colocando em risco o sucesso da edição 2023 do evento, que ocorrerá na primeira quinzena de novembro, em Lisboa.
Nos últimos dias, várias big techs cancelaram a participação no evento. Amazon Web Services, Meta, Alphabet (dona do Google) anunciaram a decisão na sexta-feira. Intel, Siemens já tinham feito o mesmo no dia anterior. Estes nomes se somaram a outros como o de Israel (país conhecido como Startup Nation), que não enviará empresas locais.
Além das empresas tecnológicas, alguns fundos de capital de risco, como a Sequoia Capital, ou aceleradoras como a Y Combinator, também abandonaram o evento. O mesmo aconteceu com alguns dos palestrantes previstos.
Mesmo com o baque, a realização do evento não foi colocada em dúvida. “A Web Summit vai nomear um novo CEO o mais breve possível e a Web Summit 2023 em Lisboa irá acontecer como planejado“, afirmou um porta-voz da organização à CNN Portugal. Os funcionários do evento também foram comunicados que os postos de trabalho não estão ameaçados pela saída de grandes expositores, mas que a empresa vive um momento difícil – o maior desde a pandemia, quando teve que cancelar a edição presencial de 2020.
E agora?
2023 tinha tudo para ser um grande ano para o Web Summit e seu fundador. No primeiro semestre do ano, a organização realizou a primeira edição do evento no Rio de Janeiro, levando cerca de 30 mil pessoas ao Riocentro, um evento que segundo Paddy Cosgrave tirou o medo de levar a marca Web Summit para além de Lisboa, onde o encontro reúne cerca de 70 mil pessoas.
Entretanto, o hábito de Cosgrave em se posicionar politicamente saiu pela culatra na semana passada, com seus comentários. Em seu perfil no X (ex-Twitter) , o CEO disse que “crimes de guerra são crimes de guerra mesmo quando cometidos por aliados”, fazendo alusão a acusações que o governo israelense estaria violando leis internacionais de guerra em seus ataques de resposta ao grupo terrorista que atacou o país.
Com toda a onda de repúdio e sua renúncia ao cargo de CEO, Paddy segue como maior acionista da organização. Além de confirmar a edição 2023 em Lisboa, o Web Summit confirmou a edição a ser realizada no Catar em fevereiro do ano que vem, algo que também virou motivo para escrutínio nos últimos dias, já que o país árabe possui elos diplomáticos com a organização que realizou os ataques terroristas.
“Se o homem estiver mais do que feliz em ir para a cama com o Qatar para a Web Summit do próximo ano, temo que os direitos humanos internacionais não estejam no centro da sua agenda”, afirmou um usuário do X.