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*De Santa Clara, Califórnia

O sol da primavera da Califórnia ainda brilhava no fim da tarde de ontem (23) quando uma horda de brasileiros começou a se concentrar no centro de convenções da cidade de Santa Clara, no coração do Vale do Silício. O motivo da reunião era o happy hour que dá início aos trabalhos da conferência Brazil at Silicon Valley (BSV).

Em sua 5ª edição – sendo que em 2020 e 2021 ele aconteceu virtualmente por conta da pandemia -, o encontro reúne mais de 600 pessoas entre hoje e amanhã com painéis e apresentações que vão girar em torno de 4 temas: crescimento sustentável, apoio à inovação, futuro do trabalho e climate tech.

Na lista de palestrantes estão nomes como Angela Strange da a16z; Vinod Khosla, da Khosla Ventures e Emilie Choi, presidente e COO da Coinbase. Na plateia, gestores de fundos do porte SoftBank, Warburg Pincus, ONEVC, Atman, SaaSholic, Newtopia e Indicator Capital e fundadores de companhias como Gupy, Pipo, Alice, Trace, EasyB2B, Trybe, Latitud, Kamino e claro, deste Startups. Paulo Passoni, ex-manda-chuva da SoftBank na América Latina, e que está há 5 dias de finalizar seu período de aviso prévio (garden leave) também circulava por ali.

Marina Mamer, membro do conselho da BSV e consultora da Bain & Company, destaca que a programação foi feita com uma mistura de painéis e também de apresentações individuais, com mais intervalos para privilegiar as conexões entre participantes. “Esse tempo foi uma demanda que tivemos muito forte ano passado”, conta.  

Mas não dava pra juntar tanto brasileiro no Brasil?   

Segundo Iona Szurnik, que participou da criação da BSV e depois fundou a edtech Education Journey, a ideia de fazer um encontro de brasileiros no Vale veio do aumento no volume de brasileiros vindo para estudar nas universidades de Stanford e Berkeley. “Tem muita gente, mas é uma comunidade pulverizada, que perde força. A vontade era criar uma ponte mais institucional, todo mundo junto. Daí ser brasileiros que se juntam no Vale. Para trazer direto da fonte as mentes mais brilhantes de cada vertical, com profunidade”, explica.

Ela conta que muitos negócios já aconteceram por conta das conexões geradas durante o evento. Reza a lenda que a gestora ONEVC fez parte da captação de seu primeiro fundo durante a 1ª edição, em 2019. Foi nela também que Ana Martins, hoje sócia da gestora Atlantico, conheceu um de seus fundadores, o Julio Vasconcelos.

Casa cheia

Nas rodas de conversas que se formavam e se dissipavam na medida que mais pessoas iam chegando e se reencontrando durante o happy hour ontem, era comum ver gente que estava se encontrando presencialmente pela primeira vez depois de anos de contato virtual.

O espanto com a lotação e os comentários de que havia mais gente ali do que em anos anteriores foi recorrente. A morte abrupta de Sara Silva Raimundo, de 32 anos, cofundadora da startup Unicainstancia, também repercutiu. Volta e meia era possível perceber alguém apresentando seu pitch para outra pessoa. Se lá fora o mercado não está para peixe, ali dentro do centro de convenções, as conversas e a animação – mesmo com o efeito do jet lag – criavam um clima de oportunidades e possibilidades aparentemente infinitas.

Feita apenas para convidados, a Brazil at Silicon Valley se firmou como um evento cuja participação é disputada, mas também comumente criticada por seu perfil muito Faria Lima. Segundo Iona, a questão da diversidade sempre foi relevante, mas foi trabalhada com mais intensidade este ano. Tanto que 25% da audiência é composta por mulheres. A presença de fundadores e fundadoras negros também chama a atenção – apesar de ainda serem poucos.

Iona destaca que a lista de participantes sempre é feita a partir do zero todos os anos para oxigenar a troca de ideias. “Ainda mais no mundo da tecnologia que muda muito rápido. É seu mérito que vai fazer você estar lá. BSV não é oba oba”, pontua Iona.

Constituída formalmente como uma entidade sem fins lucrativos no estado da Califórnia, a BSV é operada por voluntários das universidades de Stanford e Berkeley e se mantém com o patrocínio de nomes como Valor Capital, Globo Ventures, SoftBank, iFood, Pinheiro Neto Advogados. Os preparativos para a edição do ano seguinte começam em setembro, coincidindo com o início do ano letivo nas universidades para também promover renovação no quadro de voluntários que participam da organização.  

Uma das adições deste ano é Emílio Umeoka, executivo que foi presidente da Microsoft no Brasil e que se fixou no Vale em 2010. Em contato com o ecossistema brasileiro como investidor-anjo desde 2014, ele destaca o amadurecimento do ecossistema brasileiro. “Antigamente era muito mais fazer cópia do que estava acontecendo nos EUA. Houve uma evolução para fazer coisas que atendem às dores específicas dos brasileiros. Houve um aumento nas captações, na qualidade das empresas”, avalia. Para ele, apesar de terem embarcado na onda dos cheques gordos e do crescimento acelerado a todo custo, as startups brasileiras ainda mantiveram parte do conservadorismo inerente a quem faz negócios no Brasil. “Teve a busca pelo crescimento de receita, mas não na mesma loucura que aqui no Vale. O deslumbramento não foi tão extremo”, conta.

Nova casa

Neste ano, pela primeira vez, a Brazil at Silicon Valley vai acontecer em um local diferente, o centro de convenções da cidade de Santa Clara – que, conicidentemente, é vizinho da sede do Silicon Valley Bank (SVB). A mudança aconteceu não porque houve um aumento de participantes. O número continua o mesmo das outras edições, 600 pessoas. A questão é que a estrutura do Computer History Museum, da universidade de Stanford, deixou a desejar no ano passado, o que levou a organização a escolher um novo local.

Pela animação de quem esteve no happy hour de ontem – que tinha previsão de acabar às 20h, quando os serviços de comida e bebida foram pontualmente encerrados, mas acabou se estendendo até por volta das 22h com rodas animadas de conversa interminável – a mudança de endereço foi aprovada.

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