O corporate venture capital (CVC) vem ganhando cada vez mais espaço no mercado global. O Brasil tem acompanhado essa tendência, embora ainda seja um ecossistema menor do que países como os Estados Unidos. Por aqui, grandes organizações como Ânima, B3, Locaweb, Totvs e Deloitte já lançaram seus veículos de investimento como estratégia para se aproximar de startups e levar mais inovação para dentro de seu ecossistema.
Estima-se que 49,2% de empresas MEI, grupo de empresas que investem em startups ou em empreendimentos de base tecnológica e têm faturamento médio anual acima de R$ 300 milhões, realizam ou já realizaram atividades de corporate venture capital. Entre as que ainda não o fizeram (50,9%), 10,2% dizem estar se preparando para essa estratégia.
Os dados são do relatório “O Corporate Venture Capital como veículo de investimento em inovação”, realizado pela consultoria ACE Cortex em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI). A pesquisa foi feita em julho de 2022 e reuniu respostas de 59 empresas de 11 Estados brasileiros que atuam em diversos setores, incluindo tecnologia, metalúrgico, alimentício, químico e farmacêutico.
A pesquisa revela que o principal motivo para as empresas não adotarem estratégias de CVC é a falta de informações sobre as possíveis formas e benefícios da modalidade, fator observado em 41,7% das respostas. Quem ainda não faz CVC justifica também com esse não ser o foco estratégico da empresa (20,8%), a dificuldade para encontrar startups com soluções para suas demandas (12,5%), o fato da matriz internacional concentrar o CVC (12,5%) e a falta de recursos da empresa (8,3%).
Das empresas que já realizaram CVC, 59,3% o fazem por meio de investimento direto. A segunda estratégia mais usada pelas grandes corporações para investir em startups são ações de fusão e aquisições (M&A), seguidas pelos Fundos de Investimentos em Participações (FIPs). Para 58% das respondentes, o objetivo estratégico está presente em suas iniciativas de CVC, enquanto apenas 13% dizem focar apenas no retorno financeiro.
Mais insights da pesquisa
“Este relatório reflete a importância de grandes corporações olharem para fora de sua operação, procurando recursos e oportunidades externas que possam trazer soluções para dores e necessidades internas. Por meio da conexão, cooperação e troca de experiências com startups, grandes empresas têm acelerado o seu processo de inovação”, avalia Luis Gustavo Lima, sócio da ACE e presidente da ACE Cortex, em nota.
Para Gianna Sagazio, diretora de inovação da CNI, são vários os elementos que influenciam na capacidade de inovação de um país, mas o investimento empresarial sempre será um dos mais determinantes para tornar um país mais inovador. “O CVC é um dos tipos de investimento empresarial em inovação que mais cresce no mundo e, especialmente, no Brasil. A pesquisa serve como benchmark para incentivar outras empresas e startups a se engajarem nesse tipo de investimento”, destaca.
De acordo com o relatório, cerca de 50% dos respondentes que realizam CVC fizeram menos de 5 investimentos em menos de 3 anos de atuação. E 55% ainda não tiveram um exit de investimento. No caso das empresas que atuam há mais de 6 anos e possuem um grande volume de investimentos, 47% têm sede estrangeira e são puxadas pela influência internacional.
Os aportes de CVC das MEIs concentram-se em startups de soluções ligadas à Indústria 4.0 (14,1%), seguidas por Software as a Service (SaaS) (11,7%) e greentechs, ou seja, empresas que atuam com sustentabilidade (10,9%). Os programas de CVC com mais de 6 anos, em sua maioria, utilizam o investimento direto do balanço. Já programas mais recentes, de 1 a 3 anos, utilizam FIPs.
Em termos de equipe, 48% dos respondentes que realizam CVC possuem uma área interna responsável por essas iniciativas. Um terço das corporações dividem as responsabilidades entre times de áreas distintas e apenas 5 empresas têm uma estrutura e gestão focados em CVC. Com quase a unanimidade, 98% das organizações que atuam com CVC têm ao menos uma outra iniciativa de relacionamento com startups.